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Quatro tiros de frente para o arrombado, errei todos. Após uma leve hesitação de ambas as partes ele disparou ladeira abaixo, correndo mais rápido do que notícia ruim. Segundos depois parti atrás, segurando a “máquina” para baixo ao lado do corpo, o dedo fora do gatilho como aprendi nos filmes de gangues.
Aquela ladeira estava asfaltada, mas não era assim na minha infância. Descíamos de carrinho de rolimã até embaixo, sobre terra e pedregulhos, esgoto aberto na sarjeta de ambos os lados. Hoje havia iluminação, e eu enxergava o vagabundo 30 metros à frente, cambaleando para um lado e para o outro, tentando dificultar a minha mira e escapar dos tiros.
Se eu parasse para acertar o tiro ele se distanciaria ainda mais, então decidi queimar o desgraçado atirando em movimento, enquanto corria, mais dois balaços. Não era como nos filmes, errei feio, passou longe. Pelo menos manteria o medo vivo no coração do sem vergonha.
Enfiei a mão no bolso, peguei mais balas; respirando com dificuldade recarreguei. O peão virou a esquina à direita onde havia um campinho de futebol, agora substituído por uma série de casas geminadas, de cores iguais. Continuei a perseguição madrugada adentro sabendo que havia perdido a chance de enviar o sacana para a cidade dos pés juntos nas profundezas dos infernos.
Logo amanheceria. Guardei a arma no bolso da jaqueta, ajeitei o boné e continuei andando, agora calmamente, atento a tudo, permitindo que a respiração se estabilizasse. O meu plano era parar na padaria e esperar que abrisse, sentado na calçada. Se a sorte me sorrisse poderia encontrar o sujo, e então realizaria a minha tarefa.
Ele correra por instinto, não deveria saber o porquê dos tiros. Nem eu sabia. Não se pergunta ao contratante o motivo da tarefa. Você apenas a realiza.
Aquela noite não fora de sorte para mim, para ele sim. Deveria estar em uma igreja ou duas no bairro, mas não ficavam abertas dia e noite. Agora temiam assaltos. Ninguém era inatacável mais. Mesmo assim passaria por elas, desencargo de consciência.
Algumas horas depois, na padaria com um pãozinho na chapa e um pingado eu já sabia que a dificuldade aumentaria, agora. O tapado se manteria escondido, isso se não tentasse fugir do bairro! Liguei para o contratante e o coloquei ciente dos acontecimentos. Informei que iria demorar um pouco mais. Ele praguejou, mas aceitou, não havia outro jeito.
Eu fui para casa, guardei a minha “peça”, coloquei o macacão e fui para a mecânica trabalhar. A próxima noite seria melhor, com toda certeza. Não estava fácil para ninguém.

 

 Marcelo Gomes Melo
 

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