Ofereceu
os lábios como se fossem as mais puras pétalas da rosa mais macia, suculenta e
doce, assim, em um gesto de desprendimento e coragem dignos da heroína de um
filme de época, os imensos olhos negros, misteriosos como o conteúdo se um frasco
de veneno escuro como a noite no interior de uma floresta.
Olhando
daquele modo acelera os meus batimentos e desestabilizou a base da minha vida,
formada por terreno sólido, paredes seguras e céu claro, sem nuvens. O calor
que emanava do corpo dela encontrava o meu no meio do caminho, um metro de
distância e um vulcão antes adormecido gerando força suficiente para erupções
abaladoras, constantes, eternas.
No
limiar da perda de consciência, quando o restante do mundo desabaria e seríamos
transportados para outro mundo, o dos prazeres infindáveis, nos conhecendo
intimamente, suavemente, até que a velocidade aumente gradativamente, pronta
para atingir a rapidez da luz, que chega antes do som como o relâmpago antes do
trovão.
As
mãos antes inquietas, sem ter aonde ir além dos bolsos, nervosamente, agora
buscavam os corpos sem obediência às regras sociais; se tocavam e exploravam
cada milímetro, e os lábios por ela oferecidos como favos de mel e chocolate
amargo foram aceitos e tomados com fúria incontida.
Não
havia vozes audíveis, nem frases coerentes, apenas sussurros desconexos e
gemidos desesperados, exclamações abafadas, a busca pelo encaixe perfeito
através de ações desajeitadas, adolescentes.
Arrancar
a roupa apressados, em meio a beijos e carícias pode ser mais complicado do que
parece! Roupas femininas podem ser destruídas, foram feitas para isso; logo
tomará a camisa como posse, porque as roupas masculinas são mais simples e
resistentes. É a natureza confabulando em nosso favor.
O
local. Uma mesa, um tapete, um sofá... Elementos criados estrategicamente para
quem tem urgência! Chaves na porta, um rádio tocando alto qualquer canção da
Sade, os sorrisos nervosos, os movimentos ritmados que vão se tornando
concentrados... O fôlego que some e volta, os olhos que se reviram, os cabelos
que se espalham, o combate que se intensifica e as marcas que permanecem como
lembranças para depois...
Os
pensamentos que martelam incessantemente nos horários mais indiscretos, nos
fazendo sorrir como bobos, sem poder explicar a razão aos presentes atônitos...
A
espera do fim do dia para mais um encontro, de início contido, na tentativa
inútil de parecerem colegas insuspeitos, com os toques acidentais e os sorrisos
cúmplices dando a maior bandeira aos mais distraídos do mundo!
E
no final um novo começo, com aqueles lábios macios e vermelhos oferecidos sem
possibilidade de recusa, e as mãos... Ah, as mãos!
Marcelo
Gomes Melo
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