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A ingenuidade como força motriz da existência



         Chega um momento na vida em que se percebe o quão ingênuos se tem sido, durante todo o tempo. Em relação a todas as coisas! Ingenuidade a respeito das pessoas com as quais se convive, sobre os sonhos, sobre a sociedade em que se vive...
          E essa ingenuidade gera um monte de clichês a respeito da vida perfeita, do trabalho perfeito, do status necessário, do amor que se deve ter e como deve ser! E todo mundo se esconde atrás desses ritos tolos, tornando suportável o fato de existir. As tristezas, quando se equilibram com a felicidade causam a sensação de bem-estar ideal, porque a balança mental permite olhar o horizonte e encontrar um ponto de apoio, um farol para guiar os tormentos e os prazeres.
          Nesse instante um clique faz perceber a utilidade de ser ingênuo e procurar acreditar nas coisas que sequer sem admitir contestação, nem de si mesmo. A bendita ingenuidade com a qual se é brindado desde o nascimento e nos protege da realidade crua, por isso as inúmeras teorias da conspiração, aliens, fanatismo político, religioso, agnóstico, não importa, qualquer uma!
          A matrix que incentiva inúmeros grupos a viver com alguma coisa em comum, que estimule a continuar pelo tempo necessário a ser útil para alguma coisa ou para alguém. Depois disso, terminada a importância, a morte é o prêmio final, talvez o mais desejado. As alternativas são todas piores: insignificância, inutilidade física, incapacidade intelectual.
          A ignorância é uma mãe bondosa e gentil que impede que a imensa maioria deixe a escuridão durante todo o seu período de permanência no planeta, sobre a Terra e não embaixo dela. À medida em que se vai sendo amaldiçoado com algum conhecimento a alegria some, a amargura toma conta e o sentido de viver desaparece rapidamente.


      
       Pessoas amargas sobrevivem, o propósito varia entre se achar dominante, calculista e cruel, e se achar dominado, injustiçado, usando como desculpa para o masoquismo que os move inexoravelmente; os alimenta como idosos no parque dando migalhas aos pardais.
          A ameaça de conhecer as coisas como são é maior do que se pode acreditar, é a razão para seitas ou grupos estranhos de adoradores de qualquer coisa proliferarem livremente disseminando confusão e destruição. Isso é necessário para que o curso se mantenha durante alguns séculos antes de serem rompidos irreparavelmente através de uma sucessão de tragédias monstruosas que eliminarão grande parte da população para que recomecem do zero, com novas regras, novos ambientes e novas necessidades. Quem sabe o segredo do universo seja esse? Aliás, seja o segredo menos necessário de ser descoberto. Para que as coisas não se quebrem e a razão de existir jamais se renove.
          A iluminação seria apenas livramento. Só isso, nada mais.


  Marcelo Gomes Melo

 

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