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O início do fim do mundo para os que ficam pelo caminho


É o milho, meu filho, trata de plantar o milho. Sob o sol do  meio-dia trabalho duro, pele escurecida, comida aquecida pelo calor da terra, água morna para manter a hidratação, a ausência de pensamentos, apenas o foco na labuta, bruta, inesgotável, o uso da terra fértil para plantar alimentos que manterão vivos com o mínimo necessário, mas produzido com suor e lágrimas, honestamente, em uma luta constante com as forças da natureza guiadas por Deus, o único a quem podem apelar para não perder o plantio e submeter-se às agruras da fome, da sede, da perda, da morte.

É o plantio do arroz, irmão, para sustentar em pé os homens, mulheres e crianças que dependem do que plantam, do que colhem e procuram revender para atenuar a falta de outros ingredientes que são sinônimos de dignidade.

Em seu pedaço de mundo, afastados das áreas urbanas, dormem cedo, acordam cedo, trabalham o dia inteiro, e aos domingos resta a missa que os alimenta de autoestima e força para continuar brigando, um almoço simples e uma dose de cachaça e um cigarro de palha, descansando na varanda enquanto as crianças trabalhadoras aí viram crianças de verdade e brincam alegremente com tão pouco.

O que trazem em comum são as fisionomias marcadas, envelhecidas, dos olhos entristecidos, os cérebros desprogramados para qualquer ambição. São como bois que vivem sem razão aparente, sobrevivendo com pouco até serem sacrificados porque é assim que são as coisas na Terra.

Não questionarão a si mesmos jamais, Deus sabe o que lhes está destinado e é assim que se resume toda a explicação. Até que a avalanche urbana surge com os seus vícios mercantis, compram, exploram e carregam tudo o que podem, inclusive a paz.

A invasão é imparável, não há como conter a fome urbana de poder, tomando tudo, mudando a rotina e escravizando tranquilamente, substituindo mãos por máquinas e excluindo sem dor na consciência, por vilania, poder e dinheiro. É o início do fim do mundo, que acaba para os que ficam pelo caminho.

   Marcelo Gomes Melo

 

A minha inóspita filosofia


- Como você sabia que eu precisava tanto de um ato de carinho?

- Eu sei das coisas que eu preciso e não recebo. E isso não significa que eu não possa oferecer. A humanidade é egoísta e contraditória, raramente se satisfazem presenteando, ouvindo, apoiando. Geralmente cobram isso das outras pessoas, remoem, acusam e odeiam. Faz parte do DNA, não há o que possa ser feito para mudar isso.

As anomalias são os que se preocupam, sacrificam e sofrem de diversas maneiras, culpam a si mesmos e morrem como covardes por não aguentarem a pressão constante de existir.

Há segundos de alívio que surgem quando os poucos dispostos a oferecer o que um outro precisa, sem esperar nada em troca, respiram oxigênio puro, prêmio por abnegação e incapacidade de pagar com a mesma moeda.

E o mundo segue, perigoso e astuto com os seus pupilos, distribuindo as máscaras que aceitam utilizar, representando coisas que não conhecem, defendendo ideias que jamais maquinaram, lutando por ideais os quais jamais forjaram.

Eu faço essas coisas por mim mesmo, para me beneficiar com um quinto do seu bem-estar, um milímetro de sua felicidade, um segundo do seu sorriso, um pouco de calor do seu coração. Coisas que você nem ninguém dividiriam conscientemente em momento algum. Eis a filosofia da vida.

 

 Marcelo Gomes Melo 

                   

 

Lágrimas mais quentes do que a chuva


Se ela quisesse já teria vindo, a essa altura. E eu não estaria aqui parado nesse abrigo de um ponto de ônibus, no fim do mundo, observando a chuva fina formar poças na rua de terra. Ao fundo, uma mata, enxertada com alguns casebres.

A essa altura, fim do fim da tarde, fosca, destacando luzes mortiças de lampiões, aqui onde a esperança não chega, e ninguém fala alto, porque o silêncio é tão dominante que costuma ler os seus corações assombrados.

Olhando para o chão vejo os meus pés molhados, os sapatos manchados de barro como a minha esperança, desgastados pelo tempo, mas ainda de muita utilidade, como a esperança. Qualquer esperança.

Barulhos vindos da mata. Ou do meu próprio cérebro trabalhando a mil por hora, incessantemente focado apenas em quando ela chegasse, como eu ficaria agradecido, a ponto de renascer! Recomeçar a jornada sem o peso inclemente que carrego às costas, com pecados individuais, coletivos e alheios. Com as dores do mundo e à procura de alívio que não creio ser possível, com os meus resquícios de esperança ali, ensopados pela chuva de vento, sem ter como esconder meu remorso, meu cansaço, minha solidão.

Ela, minha diva, minha sina, onde estaria? E se estivesse em algum lugar, chegaria? Ali no limite da minha alma, à porta do calabouço, a entrada sem ticket que os derrotados pelo tempo recebem e não podem recusar. Anoitecia rapidamente, céu sem estrelas, todos os sinais de que ela não iria chegar. Nem o ônibus.

E então ouvi um barulho de uma chave, uma porta atrás de mim se abrindo e uma voz idosa, enrouquecida pela falta de uso se dirigiu a mim.

- O próximo ônibus só amanhã às sete, meu filho.

Olhei para a figura mirrada, enrugada, de olhos gentis profundos e experientes, que acenou para mim.

- Venha, tome uma xícara de café, uma refeição quente. Tenho uma cama simples disponível, na qual passará a noite em segurança.

As lágrimas que desceram livremente dos meus olhos eram mais quentes do que a chuva. Finalmente ela chegara, restaurando a minha esperança imediatamente. Era ela, que tardava, mas jamais falhava. Era ela, a minha inabalável fé!

 Marcelo Gomes Melo

 

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  Era uma lapa de bife de uns cinco quilos, sem mentira nenhuma! Estava lá, exposto para quem quisesse ver e desejar, rosado, fresco, maci...

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