Eu
sou o único da minha espécie e o primeiro do meu Tempo. Trago como instrução
única abdicar de todos os prazeres e conflitos apenas para me concentrar na
tarefa vital de julgar, com letalidade impiedosa, após observar o comportamento
das outras espécies.
Não cabe a mim arbitrar ou demonstrar
qualquer sentimento que turve os meus julgamentos. É tudo muito simples,
observar, analisar e destruir. A mínima falha será punida, não há salvação
nesse ramo. Todos perecerão sob a minha arma, sem o direito a uma palavra de
arrependimento ou aceitação.
A surpresa em suas faces será a última
imagem que ficará em minha mente. Na deles, nada. Irão para o além sem paradas
no caminho. Uns sofrerão a tortura de relembrar a própria história para sempre,
em um looping interminável. Outros habitarão o limbo, sem saber a razão, o
motivo da culpa que os machuca ferozmente sem descanso.
Eu sou o primeiro do meu Tempo, não
carrego paixões, nem qualquer coisa além de armas. O único da minha espécie,
criado para restituir a glória através do extermínio cruel e indispensável dos
seres cujas falhas são intrínsecas e milenares.
Esse caminho de mão única não tem
distrações, nada dos lados, destruição à frente. Conduzir os incapazes é o meu
dever; o meu signo é a paz imperdoável, sou o silenciador dos bramidos vulgares
que acalentam os nocivos à luz.
Cérebros queimarão e o odor liberado
embalsamará os ridículos para que sejam atropelados pela parte insana que correrá
a esmo tentando encontrar salvação sem alcançar êxito.
Cada
um exercerá o seu papel nesse final de tempos em que a limpeza se faz
necessária. A chuva ácida corroerá a tudo e em meu redor apenas escuridão.
A lenda que me tornarei para os novos
durará milênios, e os fará temer tudo o que foi feito até o tempo antes deles,
portanto nada será repetido por séculos, até que se esqueçam e retomem o
caminho de mão única, ameaçando o equilíbrio universal.
Nessa época, então, eu, o único da
minha espécie e o primeiro do meu Tempo retornarei, com mais armas, mais
impiedoso, para cumprir o meu destino que é observar, analisar, julgar, punir.
O rastro de destruição, como um
cometa, se afastará das galáxias até desaparecer por completo. E serei
conclamado e temido de boca em boca e nos registros escritos e digitais. Eu sou
o anjo exterminador.
Marcelo
Gomes Melo
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