Reconstitua-me!
Embriagado
por uma cachaça chamada mulher, que me derrubou por dias e dias, sempre procuro
recuperar as energias para gastar com ela e suas maquinações estonteantes que
me levam ao paraíso que só os bêbados e os apaixonados alcançam; vivo entre o
prazer e o mistério. Ou o mistério faz parte do prazer? Ou eu não sou capaz,
pela embriaguez, de determinar se o mistério é mesmo mistério ou o contrário? É
tudo tão escancarado e claro, que me acomete de delírios.
Talvez esteja se perguntando por que
ainda não falei da dor. Simples: a dor é colocada em segundo plano para os
momentos de sobriedade, momentos de ausência dela, a mulher.
A dor fica nos bastidores, nos
momentos em que eu, entorpecido, sorvo cada gotícula do bálsamo que ela me
oferece, afirmando ser provocado por mim; toques dos quais não me lembro.
Lambidas das quais guardo apenas os diversos sabores.
Ela, a cachaça que me inebria, vicia e
ao mesmo tempo alivia parece ser um passe para uma vida fora da realidade, até
que se acabe, e a garrafa vazia seja atirada ao mar com uma mensagem
desesperada da minha parte. Reconstitua-me!
Marcelo Gomes Melo