Dia das mães no inferno!
Nesse
domingo do ano é assim, Roswanilssa reclamou entredentes, olhar carregado,
cuspindo perdigotos de ódio. Multidões chegando como se o fizessem
rotineiramente, sorrindo, falsas e trazendo os netos, os namorados e namoradas
dos netos, agregados malditos e suas piadas sem graça para o almoço mais
concorrido do ano.
Esses desalmados nojentos passam o ano
inteiro sem dar sequer um telefonema, sem perguntar se precisamos de alguma
coisa e sem oferecer porcaria nenhuma! Agora abraçam e repetem as baboseiras de
sempre, que escutam nos comerciais melosos e mentirosos da televisão. Trazem
flores, os sacanas! Quem diabos quer flores?! Flores o cacete! Guardem essas
flores para o dia do enterro!
Uma balbúrdia desgraçada o dia
inteiro; crianças mal educadas correndo e gritando, mexendo no que não devem e
quebrando coisas que não lhes pertencem ante o olhar benevolente e conivente
dos pais. Será que esses bananas não conseguem dar um jeito nesses capetas? E
se nós, os avós resolvermos colocar ordem na pocilga, ficarão ofendidos, os
imbecis. Afinal estão quebrando nossos pertences, não os deles.
Passam o dia todo no ócio, os homens
enchendo a cara de cerveja e comendo gordura em nossa homenagem, para depois se
esparramarem no sofá roncando como porcos, enquanto as mulheres se aglomeram em
torno da mesa da cozinha, fofocando sem deixar de beliscar guloseimas como se
fossem ratos, ao mesmo tempo em que falam sobre dieta e como o corpo deve ser
um templo. Só se for um templo de pecados infernais!
No
fim do dia, felizes com eles mesmos pegam seus rebentos e dão o fora sem olhar
para trás, certos de que cumpriram bem o seu dever ditado pela mídia,
satisfeitos pela comemoração que visou apenas o bem deles próprios. Agora
retornarão apenas no ano que vem, para realizar a mesma pantomima que visa
repetir o mesmo.
A louça suja ninguém vai lavar. As
latas de cerveja vazias espalhadas pelo quintal ninguém vai recolher. As
manchas de gordura e de doces no sofá e os enfeites quebrados ninguém vai repor
nem solucionar. Cada domingo desse é um inferno, ainda bem que só inventaram um
por ano! A única certeza que tenho de vingança é que tal ritual se repetirá em
breve, e eles serão vítimas desse terror com os próprios filhos malcriados!
Roswanilssa! Vamos, mulher, para de
ficar olhando a festa do vizinho através da brecha no muro e trate de se
apressar. Hoje a visita na cadeia é complicada, você sabe que estará lotada de
pais como nós. Os meninos estão esperando para comemorar, vamos!
Roswanilssa não diz nada. Ajeita o xale, dá um olhar assassino para o marido, que, distraído colocava quitutes no banco de trás do carro e encaminha-se para o presídio local.
Marcelo Gomes Melo
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