A hora do Tapitinguá
Hanestésio
é macho bomba, é garoto sepulcral, é modinha plural, o homem das baladas
epidemiológicas. Gosta de se vestir de forma inequívoca, tornando claro que
está antenado com as tendências delimitadas pelo mundo em todas as áreas,
principalmente as artísticas.
Artísticas na óptica dele, diga-se de
passagem. E o gosto de Hanestésio, homem do amor e da flor, tiozinho Sukita sem
noção, não era lá essas coisas, pendendo mais para o péssimo do que para o
razoável. Mas gosto é algo bastante subjetivo, dizem os que vivem em cima do
muro, sem querer se comprometer com nada que lhes traga antagonismo.
Hanestésio empurrava aquele boné na
pequena cabeça de melancia, uma calça daquelas retalhadas que custam uma fortuna
mesmo que faltem pedaços, um tênis de jogador de basquete americano, coloridão
com cadarços desamarrados, uma camisa polo de marca dois tamanhos maior e um
óculos escuros utilizado como “arquinho”, resquício da mania do pagode que ele
mantinha sem perceber. Ah, cabe ressaltar que os óculos ficavam sobre o boné, o
que era ainda mais bizarro!
E assim ia ele às baladas mais
exóticas, batalhando as novinhas como se não houvesse amanhã, tentando se
acomodar em uma tribo que não parecia ser a dele em nome da felicidade.
Hanestésio era homem de cidade pequena, distante dos grandes movimentos da moda
universal, mas desde que inventaram o computador, as informações se encurtaram,
chegavam mais rápido ao local em que ele se escondia, isso era estarrecedor. As
notícias chegavam, mas distorcidas como na antiga brincadeira do telefone sem
fio, que existia na Era da pedra lascada ou coisa assim.
Para
ele a sexta feira era a “hora do Tapitinguá”, era quando a onça bebia água, e a
“onça” era ele; saía para a caçada semanal por sexo, cerveja e funk carioca,
não necessariamente nessa ordem. Esses elementos acalmavam o âmago tumultuado
de Hanestésio, o desespero silencioso que o massacrava, a solidão tática que se
espalhava por todo o seu ser e o fazia tentar eternamente manter o pescoço
acima do lamaçal que era a vida para um ser humano como ele.
Pode ser triste, mas é assim com
milhares de indivíduos, e talvez o apego às futilidades salve diversas pessoas
do ostracismo e da morte; então, já filosofando sem querer filosofar, nada é
tão sem categoria que não se possa absorver alguma coisa em proveito próprio.
Isso faz de muita gente uma recicladora ambulante de lixo.
A hora do Tapitinguá pode ser um
engano solene ou uma salvação sensacional, dependendo de como cada um encara a
sorte, ou a falta dela. Levando isso em consideração, todos deveriam agir como
Hanestésio em 50%, pelo menos; criar a própria hora, seja em que dia for, seja
em que local estiver. Sem esquecer que a ausência de preconceito também pode se
tornar um preconceito, metalinguisticamente falando.
Marcelo Gomes Melo
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