A
paciência deixa de ser virtude e passa a ser caminho para a obtenção de lucro
O professor não tem mais
paciência para orientar o aluno. O aluno não tem paciência para ser orientado
pelo professor e nem entender a importância de crescer com o aprendizado.
O médico não tem mais paciência para ouvir o paciente. O
paciente não tem paciência para entender o atendente, que não tem paciência
para realizar nenhum atendimento.
O policial não tem paciência para lidar com os cidadãos de
bem porque a maioria das pessoas com quem lidam é de bandidos. Os cidadãos de
bem não têm paciência de confiar na polícia porque acreditam que todos são
corruptos e mal preparados.
A imprensa não tem paciência para apurar de verdade as
notícias. A população não tem paciência para filtrar as informações que lê e
assiste, separando o joio do trigo; o que é plantado e inventado do que é
verossímil.
Quem é que tem
paciência hoje em dia? Além dos budistas, é claro. Além dos discípulos de
Ghandi e dos flutuantes experts em meditação transcendental. Além dos indianos
que praticam autopunição para espiar os pecados. Além dos monges que ateiam
fogo ao próprio corpo num ato de produção de churrasco humano inigualável.
Quem?
Muitos profissionais são pacientes! Os vendedores de carros
usados, por exemplo. Os vendedores de jazigos; os profissionais que ganham por
comissão...
Os mais pacientes de todos, com grande certeza são os
gerentes de banco e os candidatos a algum cargo político. Esses são donos dos
sorrisos mais largos do mercado, os mais atenciosos, gentis e preocupados seres
do planeta. Apertam mãos, beijam, oferecem cafezinho, colocam crianças no colo,
fazem promessas sem fim.
Seria o caso pensarmos que a paciência estaria ligada à
possibilidade de obtenção de lucro? Às vantagens a serem adquiridas? Isso seria
desacreditar em um dos pilares da virtude humana, corrompida irrefutavelmente
em tempos de individualismo e pensamento baseado apenas no materialismo e no
imediatismo da ascensão social promovida pelo dinheiro conseguido a qualquer
custo.
As pessoas já não pensam mais na coletividade, não sentem
piedade nem agem apenas pelo bem do coletivo. Toda a demonstração de apoio e
comoção com o sofrimento alheio, com as tragédias que ocorrem diariamente é
falsa, da boca pra fora, visam apenas elevar a própria imagem pública.
O ser humano de hoje será o autômato inanimado de amanhã?
A paciência tem limites e por vezes quando esta está nos limites pode levar a acções inesperadas, nem sempre boas, mas às vezes necessárias.
ResponderExcluirTalvez porque somos muitos mais do que há 100 ou 200 anos, parece-me que a nossa época está a passar por uma crise, não só económica mas também de valores, sem igual. No entanto acredito que as coisas se vão recompor! :)
Vou tornar-me muito Zen...
Essa crise de valores éticos e morais já está passando dos limites, Luísa. Espero, como você, que seja apenas um ciclo e acabe, para que fiquemos extremamente zen...rs Valeu!
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