Sobre
os quinhões de reflexão
Sob
os cabelos empapados em sangue há um cérebro, e nesse cérebro há arquivos
obscuros, perigosos, acumulados durante uma vida intensa a serviço de pessoas
pouco confiáveis, inescrupulosas, dispostas a qualquer coisa pela manutenção do
poder. Sempre atrás de um biombo blindado, é claro. Esses, os dos arquivos mais
profundos em um cérebro aberto literalmente, não agem diretamente. Eles nunca
colocam a si mesmos sob riscos, embora saibam que esse é o sobrenome que escolheram,
abandonando a tudo o que pareça honesto, ético, humano.
Estranhamente
são esses os valores que pregam descaradamente, ao mesmo tempo em que matam,
cegam, destroem, inutilizam, determinam o modo como a maioria vive, ou quando
morrem. Sorriem com facilidade e oferecem vantagens como objeto de sedução.
Quando não o conseguem, torturam, ameaçam, causam problemas e maldades, sequer
piscam os olhos.
Os
arquivos profundos naquele cérebro em plena decadência, contém listas e
instrumentos mortais, físicos e escritos, instrumentos que corretamente
sussurrados acarretarão tribulações e sacrifícios humanos, tragédias vendidas
como naturais, mas provocadas artificialmente com um único propósito: a
manutenção do poder.
O
sangue que escorre pelos olhos, também escapam dos cabelos e atingem o cérebro,
apagando com o vermelho as lembranças mais perigosas para os mandantes, os que
se serviram da coragem insana e falta de inteligência total de quem não se
considera digno o suficiente para ter ideias próprias. Nasceram para servir, e
quando a validade acabar, serem atirados em uma vala qualquer à beira de uma estrada
de terra, no meio do mato.
Ninguém
chorará por eles, nem se lembrará de sua existência nociva, ilegal, vergonhosa.
O sangue empapado esfriará e coagulará, expelindo da vida o seu dono, envenenado
por natureza, sem a benção divina.
Os
restos mortais não serão encontrados; predadores já estarão à espreita para
devorar o que puderem. O que restar será corroído por vermes inclementes e
indiferentes, que não discriminam os cadáveres que porventura surjam.
A
vida segue, quase ninguém fica sabendo. Na verdade, quase ninguém quer saber,
só os que terão, cedo ou tarde, o mesmo destino, comentarão brevemente antes de
seguir com os próprios pensamentos. Essa é toda a reflexão que são dotados a
ter.
Marcelo Gomes Melo
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