Paixão
que arrasa, noção que se perde
Paulina
diz que me ama e que está se tocando enquanto falamos ao telefone, com a voz
trêmula e ofegante, encharcada como um pântano mantendo as pernas entreabertas
e uma das mãos entre elas, estimulando suavemente incentivada pelas minhas
palavras ousadas, pela minha descrição vívida e a rouquidão exigente
fazendo-lhe bambear as pernas, os seios subindo e descendo em um ritmo doido.
Estamos
distantes, mas ela vê cada centímetro, de olhos fechados. Ela sente. Enxerga o
suor no meu rosto, o meu olhar em chamas e a minha mão pesada manuseando como
um adolescente todo o tesão que Paulina causa, acesa como uma tocha no meio de
uma floresta.
Repetir
que me ama aos choramingos é a senha para os meus urros roucos, fora de prumo,
êxtase puro e fome voraz, da qual não pretende escapar. Os ruídos de amor fazem
parte do jogo. O pensamento violado transforma paixão virtual em realidade
sincronizada, sem riscos, sem medos, sem hesitação que impeça que todos os
desejos se realizem.
A
determinação toma conta e não impede que o instinto de preservação limite o
alcance. Tudo é possível e depois sorriremos cansados, só restam lembranças
reais, que aceleram o sangue à mera lembrança, e desperta quereres que antes
seriam imprudentes.
Tudo
é amor, Paulina, quando usamos todos os sentidos disponíveis e criamos alguns
outros impensáveis até outro dia, durante a rotina infindável e chata, que
obriga pessoas a criar receitas e segui-las alucinadamente tentando satisfazer
corpo e alma.
Muitas
dessas receitas, senão todas, causarão dependência e tristeza, produzindo robôs
que automaticamente se enganam quanto à aurora do amor. Sequer conseguem o
mínimo de prazer e o vazio só aumenta, encaminhando corpos sem alma para a
beirada do abismo onde tombarão um a um, enganados até o fim.
Paulina
diz que me ama, as pernas fortemente trançadas, as mãos sobre os seios com
força e os sussurros desesperados, correspondidos à mesma medida rumo a uma
explosão incontida jorrando naturalmente, retirando toda a tensão acumulada,
fazendo relaxar com um cansaço possível, necessário. E sorrisos, e palavras de
amor que jamais farão sentido, se comparadas ao prazer alcançado através da
energia dos corpos imantados, que se procuram sem barreiras e se encontram aonde
quer que estejam.
Marcelo
Gomes Melo
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