Ela demorou tanto que
eu cheguei a confrontar o meu imaginário para questionar se existia de verdade!
Raios! Olhei tanto o relógio que o desgastei, e hoje vejo o
horário no celular. Tomei tanto milk-shake de diversos sabores que a garçonete
começou a me olhar estranho, como se eu fosse algum tipo de criança grande
fominha. É que ela, a garçonete, não sabe que só bebo do Porto quando brindo ao
que está por vir, estampado nos olhos raros da minha amada imortal.
Ela demorou tanto que as flores de plástico na prateleira
da loja de enfeites em frente ao parque desbotaram de tristeza por me verem
atarantado. Essas flores não sabem que só tomo conhaque quando o corpo dela se
afasta e neva em meu pensamento!
Acho que dei mais de mil passos, de um lado para o outro,
mãos nos fundos dos bolsos, o olhar a laser varrendo cada canto possível,
esquinas marotas, pregam peças o tempo todo; surgem belas aos montes, sereias
dispostas a hipnotizar a qualquer homem. Mas eu não sou um homem qualquer.
Essas delícias quando surgem, cruzando as esquinas, não
fazem ideia de que só tomo uísque se o mundo acabar!
Tenho absoluta certeza de que isso é um teste para sentir
que o meu coração aguenta. Comí um cachorro quente, um saco de pipocas e li a
bula de um remédio! A moça da sorveteria me olhava por baixo dos longos cílios,
sorria maliciosamente, pensando quase que em voz alta: “esse cara vai engordar
quinze quilos antes que a mulher de sua vida apareça como a lua...”.
Sim, o dia acabava, e
eu sentado num banco de madeira, no parque, observando a areia, os brinquedos e
os últimos raios de sol, olhos baixos. Foi então que os céus se abriram e os
sons de romance brotaram! Vi os sapatos pequenos, azuis como o vestido. Vi o
sorriso largo e os quadris rebolando, naquele ritmo suave que me faz apertar os
olhos, repleto de expectativa. Ergo meu queixo, arrogante, mordo o lábio
inferior, mas ela nem se dá conta. Mantém um sorriso e faz o caminho, sem
pressa, sem entender, cada segundo é vital!
Depois de um milênio ficou ao alcance de um beijo, mas sou
teimoso e, em pé, a um passo do precipício, silenciei. Deixei meu olhar
acariciar-lhe o corpo todinho, de cima em baixo, e sorrindo, deixei que, na
ponta dos pés, apoiasse as mãos no peito e beijasse com gosto. Sabia como
fazer!
Eu a sentei em meu colo, e meio atrapalhado busquei a
caixinha de veludo em meu bolso. Aquele olhar me avaliava, com satisfação em
seu lindo rosto?
Os últimos raios de sol
refletiram-se nos anéis, quando ela abriu a caixinha. O ar de surpresa fingida
continha mais certeza do que a minha apreensão. Não precisava palavra alguma
para descrever. Suspiros não têm marca.
E ela sabe que eu só bebo champagne em caso de amor
perpétuo.
Marcelo
Gomes Melo
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