Apenas as escolhas que podemos fazer
Ela
me convidou para a sua cama e quis negociar um contrato, enquanto eu pensava
comigo mesmo “eu faria de graça”. Não me pareceu uma daquelas mulheres sem
autoestima, desesperadas por amor comprado com discrição como bônus. Apenas
alguém faminta por controle a ponto de comprar prazer e carinho sem se
comprometer ou correr algum risco de envolvimento emocional, por mínimo que
seja.
Eu não sou um filósofo nem psicólogo,
muito menos algum romântico incorrigível para me sentir afetado por aquela
situação, mas não consegui evitar observá-la e imaginar o tipo de vida de uma
mulher como aquela.
Caso fizesse constantemente, teria
algum efeito relaxante ou a angústia tomaria conta de sua alma, empurrando-a
ainda mais fundo no abismo.
Manter o respeito e a educação visando
um tom de voz neutro, quase profissional, era estranho. Revidava a qualquer
gesto de carinho com um movimento vago de mãos, recusando, desacreditando e,
desviando os olhos, permitindo-se um breve sorriso de descrença.
Eu, profissional, me sentia um pedaço
de carne escolhido no açougue, quase que com desdém. Estava acostumado mais a
ser tratado como um salvador que premiava com prazer a quem não tinha propósito
na vida.
Respirando fundo segurei a sua mão,
impedindo-a de soltar-se dessa vez. Obriguei-a a olhar em meus olhos,
desafiadoramente. Estava disposto a contestar. Vazios. Ela desprezou os meus
esforços com um breve entreabrir de lábios sem emitir qualquer som.
Não
me foi permitido despi-la, ela mesmo o fez, despretensiosa e tranquila. Com um
olhar ordenou que me desfizesse das minhas roupas, esperando na cama.
Um tanto deprimido mergulhei sobre
ela, imaginando que estávamos ali por diferentes motivos, mas em igualdade de
condições. Afinal, a tristeza e a solidão se manifestam de formas distintas,
mas são o ponto em comum entre nós, um casal deslocado nesse mundo maluco, em
que não existem mais sonhos. Só as escolhas que podemos fazer.
Marcelo Gomes Melo
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