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  O império dos lobisomens





 
         Eu sou quieto por natureza. Silencioso por opção. Raramente me envolvo em discussões. Minhas mulheres brigam e eu me calo. Perco sempre. Para a avó mando um beijo, para a mãe um meio sorriso e baixo a cabeça. Quando um sorriso me escapa por entre os lábios não é mais meu, pertence a quem o recebeu.

          Minhas emoções fluem muito bem numa luta de boxe, qualquer esporte na tevê, é quando se torna possível vê-las. Em outras ocasiões deslize a mão em meu braço e poderá percebê-las.

          Esmurro facas do meu jeito, diariamente converto os problemas do mundo numa taça de vinho. É assim que me vingo das dores. Seus lábios quentes e macios as aliviam pra mim constantemente, e procuro em seus olhos minha mortalidade, o saber do que acaba mas nunca esmorece. O que é imortal está contido nos movimentos de seus quadris, e eu não quero mais nada pela eternidade.





          Enquanto o dia clareia respiro fundo e me conformo, dou de ombros ao que é impossível domar. O ardor feminino e seus cabelos, por exemplo.
          Não sou de sonhos, mas caio como um bebê aprendendo a andar, em direção a você.
          Sua força seduz crocodilos, mas quem grita com o mundo através dos olhares, com ombros prontos a suportar desencantos sou eu! Meu coração é lycan, minhas garras pura pose e seu perfume inebria meu ceticismo galante.
          Me surpreenderam dizendo que hoje é “Dia do homem”. Para vender mais desodorante e mais cerveja gelada, talvez. Sussurraram com um ar  Monalisa à guisa de explicação, ou gozação, que todo 15 de julho, por razões filosóficas, religiosas, míticas, químicas ou científicas convencionou-se defender os direitos masculinos, iniciativa da Ordem Nacional dos Escritores, desde 1992. Marte representa a nós, homens, e na mitologia grega o seu símbolo traduz masculinidade.
          Eu lhe repito, entretanto, que só sei ser homem, nada mais. Seja meu prêmio, mulher, e a vida continuará, com perfume de flor.

 

 
 
            Marcelo Gomes Melo


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