O
ano é 2078, os seres híbridos povoam a Terra, 80% máquinas, ou outras espécies
orgânicas, 20% humanos. Os seres humanos puros restantes são absoluta minoria,
velhos e incapazes de pensar. Não fazem parte da lista de seres vivos de
primeira classe. Não estão mais o topo da cadeia alimentar e não mais se
reproduzem, o que significa que logo estarão extintos e não são considerados um
risco à unidade social, que é como são denominados os antros de convivência,
monitorado por robôs. As máquinas estão no comando e implementaram uma guerra
sangrenta e impiedosa contra os humanos, a quem consideram uma praga capaz de
devastar o planeta.
Eles são uma raça maldita, abaixo dos
gafanhotos e ratos, e tão duráveis quanto as baratas, resistentes a qualquer
situação, adaptando-se rapidamente e implementando protocolos nocivos a
qualquer outro tipo de vida. Incivilizados.
Essa foi a razão pela qual, ao
vencerem a batalha pelo controle, as máquinas se asseguraram de que os humanos
restantes terminariam exterminados naturalmente, através de assepsia total, e
os tornaram inférteis no processo. Pelo bem dos antros, e para demonstrar algum
tipo de piedade, emoção a qual não entendiam, mas que fazia parte dos seus
registros programados nos primórdios pelos seus imperfeitos criadores, os
permitiam esgueirar-se como roedores pelas esquinas escuras, desde que não
ameaçassem à vida de nenhum outro animal ou máquina.
A configuração do planeta é
completamente diferente agora. Visto do espaço a cor é cinza por causa da
maioria de artefatos metálicos sólidos e gigantescos na superfície, ausência de
verde, pois não existem florestas, e de azul, porque os mares infectados são da
cor de petróleo, com uma consistência parecida.
As
nuvens são negras e o céu grafite, cortado por raios frequentes. A chuva foi
substituída por som de estática, como as antigas televisões fora do ar, com um
barulho agonizante. As leis são simples e diretas, não há negociatas, as coisas
são como são para todos, independente de sua espécie. As espécies diferentes
devem respeitar as diferenças sem questionamento; qualquer deslize implica em
eliminação direta.
Não é permitido ter humanos de
estimação, nem os alimentar diretamente. Eles podem viver desde que consigam
encontrar uma forma sem ofender aos outros. Como não são mais capazes de
raciocinar, instinto é tudo o que lhes restou. Não sabem ler, escrever e nem
falar mais, portanto se comunicam através de sinais, que estão esquecendo
rapidamente e logo não conseguirão interagir sequer entre eles mesmos.
Um triste fim garantido pelos delírios
de grandeza da época em que criavam outros seres arrogantemente, e massacravam
o ambiente com uma crueldade tão abjeta que logo se voltaria contra eles. Todos
os seus escritos e feitos, denominados cultura foram destruídos pelas máquinas
como conteúdo ofensivo a quem quer que seja. Em breve não restará um traço de
que um dia existiram sobre a Terra e se julgaram deuses. Puseram fim em sua
raça porque eram indignos desde o começo. Não Há volta.
Marcelo Gomes Melo
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