Só se percebe o envelhecimento dos
outros
Raramente se percebe o envelhecimento
em si mesmo. É um processo gradual, quase invisível para quem se olha no
espelho diariamente, porque há um protocolo interno que impede que a realidade
nos atinja de pronto, bruscamente; às vítimas dessa percepção resta uma revolta
que se manifesta de diversas maneiras, e nenhuma é positiva, a não ser para os
poucos preparados para a aceitação da decadência inevitável, diminuindo a
acuidade visual, auditiva, afetando a memória e os anticorpos, prejudicados por
vidas descuidadas, sedentárias, aumentando a fragilidade do corpo e diminuindo
a confiança da alma.
Quem
percebe o envelhecimento são os outros, nunca em si mesmos. Atualmente há os
que lutam contra o inevitável através de dietas, exercícios, orações, drogas e
doutrinas supostamente eficazes para retardar os sintomas da velhice, até que
se encontre a fonte da juventude.
Muitos
se submeterão a tratamentos patéticos e se tornarão motivo de piada por
tentarem permanecer em uma faixa etária a qual não pertencem mais, procurando
se adequar às novas modas e estilos, trocando convicções por aceitação. Os
tiozinhos e as tiazinhas, vestidos completamente fora dos padrões etários,
mascando chiclete e misturando gírias antigas com as novas sem notar o ridículo
no qual se inserem para curtir uma falsa sensação de juventude.
As
maneiras de conseguir sexo e de como se comportar em uma balada para se dar bem
mudaram tanto quanto as escolhas de gênero e os fetiches, colocando os que se
recusam a envelhecer em saias justas que poderão transformá-los em vilões,
machistas, fascistas... Mas não passam de idiotas em potencial quando a atenção
de uma forma impossível, pois mesmo que modifiquem as suas convicções, ainda
serão estranhos no ninho, bradando por causas inúteis, fazendo a caminho
contrário à evolução, dispostos a ficar menos e menos inteligentes até o
período pré-histórico.
O
que era natural agora é reprovável; a falsidade é a moeda da vez e a democracia
muda de definição e passa a ser considerada como a vitória das minorias e a
punição à maioria que ousar pensar diferente.
É
difícil envelhecer sem perceber, colocando-se em situações embaraçosas para ser
considerado parte da nova ordem, sacrificando tudo por uma coisa irreal, que no
fundo apenas os fará sofrer mais e mais.
A
riqueza de envelhecer com dignidade, mantendo os princípios e a honra pode
parecer absurdo, mas é o contrário: um toque de Midas que permitirá um final
dourado à margem das novas configurações sociais inaceitáveis. Ninguém é para
sempre. Envelhecer agora significa escapar das gerações ineptas responsáveis
pela destruição da vida como a conhecemos.
Marcelo
Gomes Melo
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