Intervalo
de luta
Soa
o gongo. Fim de assalto. Banquinho, balde, garrafa com água...
-
Aê, brother, está indo bem, está indo bem! Bora!
-
É isso aí, campeão, bebe água aqui.
-
Conserta o olho dele, Tonhão! Coloca pra dentro e grampeia. Respira, parça,
respira.
-
Tenho que vedar esse talho na testa, treinador, está muito fundo, sangrando, o
árbitro pode parar a luta.
-
Enche essa porra de vaselina, Tonhão! A luta não pode parar, senão ele perde
metade da grana da bolsa. Tudo joia, campeão? Ele grunhiu, Tonhão, está vivo,
tudo certo.
-
Tenho que colar a zoreia, treinador.
-
O que, Tonhão?!
-
A zoreia dele está caindo, tenho que colar, Ele levou muita porrada no
escutador de rádio.
-
Cola com fita crepe. Presta atenção, parça: bate na linha de cintura, que o
adversário está acabado. Viu os olhos esbugalhados, a língua pra fora? Está
cansado, o sacana. Chuta na perna e na cabeça, arranca um tampão daquela
cabeçona.
-
Treinador, o nariz está quebrado.
-
Conserta, Tonhão, ele tem que respirar, faltam dois assaltos! Respira pela
boca, campeão, pensa no dinheiro!
No
corner adversário:
-
Bom, campeão, foi bem, foi bem! Senta a pancada, mano, chuta a cabeça, a orelha
dele está caindo!
-
Toma água aqui! Falta pouco, está ganhando a luta, pensa na família, nas
crianças, temos que vencer essa. Treinador, um olho está fechado por causa das
joelhadas em sequência que ele recebeu. Acho que quebrou uma costela.
-
Normal, normal, guerreiro, mete gelo, Nino, ele tem que enxerga com um olho só;
pelo menos uma sombra... Está chorando por que, guerreiro?
-
Minha família, treinador. Minha mulher fugiu com o carteiro e levou os meus
dois filhos...
-
Quem falou em família aqui, você, Nino?! Deixa de ser burro!
-
Desculpa, treinador, estava tentando animar... bebe água, guerreiro, bebe água.
-
Mais uma razão para vencer a luta, rapaz! Vai ter que pagar pensão. Além do
mais...
-
O que treinador?
-
O seu adversário é carteiro. Ele luta pelo sindicato.
Ouve-se
um grunhido de ódio e o som aterrador de luvas se chocando um pouco antes de
tocar o gongo para o reinício da luta.
Marcelo Gomes Melo
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