Não
me deito tranquilo. Sou um mar de inquietações em noite de tempestade, o meu
peito sobe e desce ao saber das ondas traiçoeiras, então não consigo lidar com
a obscuridade dos meus pensamentos rasos.
Debater-me em vão, de um lado para
outro da cama não ajuda em nada, porque não há concentração, não há foco, é
impossível controlar pensamentos aleatórios e dominar a ansiedade até admitir o
quão solitário pode ser o mundo, e como é difícil confiar no entorno sem
confiar em si mesmo, vivendo um drama sem fim noite após noite, suando frio e
rangendo os dentes sem perceber, torcendo desesperadamente para que o dia se
apresente claro, ensolarado, caloroso, dispersando incertezas e disseminando
razão, coragem e alegria.
Entretanto tudo é vazio, e quando se
alcança maturidade suficiente para perceber isso, uma escolha se faz necessária
e urgente; trata-se de convencer a si mesmo que se vive em uma bolha, irreal o
quanto pode ser, admitindo a própria incapacidade intelectual, ou lutar pela
causa que a claridade propõe, relativa à propostas até certo ponto esdrúxulas,
difíceis de acreditar’
O entardecer inclui melancolia na
equação de existir em um universo incontável como um ser diminuto cujo livre
arbítrio pode ser mera fantasia, pois o destino, traçado sabe-se lá desde
quando, cumpre disciplinadamente o seu caminho sem olhar para os lados.
Esse ponto de vista arrancaria de você
qualquer tentativa de assumir a direção, permanecendo à deriva, aguardando o
desfecho como um mero passageiro em um avião sem piloto.
O
interessante é que, mesmo após todos os questionamentos a mesma noite chega e é
escura, a insônia se repete da mesma forma como a ansiedade pelo amanhecer.
Essa rotina se quebra em algum momento?
Quebrando-se nos levaria a outro nível? Em outro nível mudaríamos o jogo ou
apenas reiniciaríamos a mesma partida com as mesmas inquietações que
acreditamos ser falhas, no entanto podem ser acessórios de fábrica porque deve
ser assim para sempre.
Marcelo Gomes Melo
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