Frio,
solidão, escravidão, escuridão
Vai
ficar tudo bem onde o vendo faz a curva e você vai poder se estirar na relva
molhada do amanhecer, recebendo de braços abertos o sol nosso de cada dia.
Os cristais de geada desenhando os
seus fartos cabelos não chegam a incomodar, pois o seu estado de êxtase ante um
viver desprovido de ambições contorna todos os obstáculos e lhe impinge uma
enorme vontade de sorrir, os olhos fechados, selecionando as imagens
maravilhosas em sua mente devidamente faxinada, sem os tapetes que escondiam a
escória das atitudes ruins que aprendeu e utilizou durante o decorrer de sua
existência.
Você acreditou na falácia de que a
exposição total lhe garantiria fama inconteste, e vendeu inclusive as escolhas
que não queria fazer; transformou-se em uma caricatura de si mesmo, gargalhando
alto e seco, sem transmitir nenhuma sensação; exercitou a falsidade das frases
feitas e mentiu descaradamente realizando ações em troca de reconhecimento.
Participou da guerra dos hipócritas em busca de status e poder, procurando
prêmios que não satisfaziam, apenas destruíam a vida dos que entravam em sua
mira malévola.
O ar puro que lhe invade os pulmões
quase lhe sufocam e arrancam de você o ódio disfarçado com o qual tocava a
vida, o lucro esperado, a comemoração lasciva, o vazio interior no final de
tudo, concluindo em angústia o jogo que você criou e agora, após muita
destruição, percebeu ser inútil, voraz e usado por displicentes sem caráter,
com pouca consideração pela vida e desconhecimento total da razão de existir em
um ambiente tão rico, predador dos seus próprios pares, desconsiderando o que é
mais sagrado por ignorância e maldade.
Lá
onde o vento faz a curva, estirado na grama molhada não tem coragem de fitar o
céu azul, com medo de que ele desabe sobre você, vingando as atitudes cruéis
implantadas com uma naturalidade assustadora.
Magoar é serventia da casa. Os sapatos
fora dos pés são sinônimo de liberdade, embora os dedos das mãos se crispem
involuntariamente, e um esgar de dor entorte os seus lábios incapazes de pedir
perdão, simplesmente por desconhecer o sentido da palavra.
As sensações que lhe bombardeiam são
múltiplas, e todas são novidades para a sua escala inferior de conhecimento de
mundo. Esses sentimentos bons lhe agridem e torturam, você não está acostumado
com eles! Desesperado tenta respirar ofegante, nos estertores de sua vida,
quando conhece e entende finalmente sobre algo que deveria ter norteado a sua
existência. Tarde demais. O céu desaba sobre você. Os últimos segundos de
clareza antes do fim lhe prometem apenas frio, solidão, escravidão, escuridão.
Marcelo
Gomes Melo
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