Nos
dias em que o coração desaba as sensações parecem uma sala cheia de cores pelo
ar, a visão fica difusa e o foco se perde por conta da baixa intensidade dos
quereres. Não é possível controlar o que se pensa poder controlar nos dias em
alta, e são nesses dias que se nota a inserção no sistema com um encaixe
perfeito, sem espaço para se mover ou pensar diferente do que está programado
para fazê-lo.
Hora
de sofrer. Não ouse procurar sair do pântano de alguma forma, curta em álcool e
despenque nível por nível até que acredite estar em um inferno, sufocado até o
pescoço, sem poder respirar ou sequer vislumbrar um pouco do céu, vítima da
areia movediça da alma.
A
partir desse momento o sistema entra em looping e a sequência de acontecimentos
é veloz, do horror à glória, da tristeza à euforia, da mansidão à morte. Daí a
crença em renovação, em um plano superior no qual a sequência é interrompida e
o coração é transferido para um outro local, com novas significações e expectativas,
sempre melhores do que as anteriores.
É
de bom tom não se rebelar nesses dias, ouvir o som das moscas, permitir que as
lágrimas desaguem e aliviem grande parte do peso, reconectando o cérebro,
oferecendo opções concretas de ação renovadora para a obtenção de um coração no
modo feliz e seguro, que lhe faça sair da penumbra indo ao encontro do sol e
das maravilhas prometidas para que o programa rode sem interrupções,
restaurando cada sensação boa até o pane recorrente.
Não
se morre de amor na matrix! O desencanto é uma arma “fazer” em modo de tonteio,
logo te faz acordar com enorme dor de cabeça, desorientado até para saber que
caminhão lhe atropelou, até que retorne aos poucos, levemente, suavemente, lhe
permitindo respirar com certa liberdade e acreditar que existem mesmo jardins
secretos e desejos plenamente realizáveis.
Marcelo
Gomes Melo
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