Ele
não quer se matar, ele só quer beber até um ponto em que a consciência deixe de
existir, ficar inerte e inapto a qualquer coisa que as pessoas apaixonadas
fazem quando estão decepcionadas consigo mesmas ou com o alvo do amor quebrado
de surpresa.
O
estágio de bebedeira em que não se sente nada, a cabeça gira e afeta todos os
outros sentidos. Beber mais é tudo o que se pode fazer, a única habilidade em
funcionamento. Se quer ficar só, mas sempre há amigos para tentar consolar
falando idiomas impossíveis de entender porque não há interesse. Ele só quer
apagar como um robô desligado da vida através de um botão para evitar qualquer
dor.
Não
é sábio morrer por amor, porque amores vêm e vão, uma boa carraspana é
suficiente, lhe fazendo dormir sem sonhos e acordar enjoado e com dores de
cabeça inesquecíveis, olhos inchados e o olhar vermelho perdido, imerso em toda
a angústia que se puder arranjar.
Água.
Um chá de boldo e sofá, com a cabeça coberta por uma almofada, as cortinas
fechadas e os telefones desligados. É a sensação do corredor da morte? Aquele
nó na garganta a cada pensamento da noite anterior, da briga, da intolerância.
Das acusações e das ameaças cumpridas por orgulho.
É
caminhar permanentemente no vale das sombras com uma garrafa de uísque pela
metade e as roupas amassadas, os cabelos desgrenhados, a ausência de vontade
para qualquer ação construtiva.
Beber
sem perceber o que é, misturar sem sentir qualquer sabor, o quanto mais forte
melhor, para afogar o sentimento miserável da perda irreversível, incapaz de
enxergar qualquer saída. Arroubos de entrar em contato apenas para ofender e
acusar, humilhar-se, perder a linha, o orgulho e a razão. Para isso servem as
duplas caipiras modernas.
Fora
das faculdades normais é muito melhor encarar uma briga encolhendo-se para ser
chutado e golpeado sem poder nem vontade de reagir, para, de maneira desonesta
se colocar como a vítima, a parte digna de dó, o farrapo humano que lamentará
por meses e meses até que os amigos e família desistam e o abandonem à própria
falta de sorte, para virar um maltrapilho relapso, acabado para a sociedade,
que for incapaz de terminar com tudo através do suicídio, e ficar com a dívida
mordaz de qual escolha corresponde à mais covarde e vil.
O
resgate à margem também pode acontecer repentinamente, como um cachorro que
caiu da mudança encontrado após tempos de sofrimento. Um outro amor ainda
poderá demorar, pois gato escaldado tem medo de água fria, mas aos poucos novas
aventuras podem ajudar a apagar o pior dia de sua vida.
As
recaídas virão, mas serão cada vez mais fácil de recuperar-se, até que
substituídas por atitudes positivas e esperança em uma nova vida em um mundo repleto
de armadilhas que deixam diversas cicatrizes.
Marcelo
Gomes Melo
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