Eu
sou um amontoado de imperfeições físicas angariadas através de uma vida repleta
de diversões e turbulências que agora cobram a conta, que com o passar dos anos
aumenta e os juros são inclementes.
A
cada inverno uma nova dor surge, logo quando vou me acostumando com a anterior.
É fato que não se pode fugir delas; são a herança de todo humano, inclusive dos
que tentam burlar o tempo através de artifícios e científicos. Também é fato
que não se pode restaurar a si mesmo, por mais avançada que seja a ciência.
Negar o acúmulo de deficiências é mais do que ser inocente, é patético.
Sempre
que me confronto com as minhas falhas, sinto que o equilíbrio se faz presente,
e sou apenas um ser humano comum, destinado, como todos os outros a um fim,
embora individual, diferente do final dos outros.
A
mortalidade faz com que vivamos com mais incertezas, e o ritmo com que nos
movemos determina a maneira com a qual nos encaminhamos para o término. O
componente incrível dessa equação não é o corpo, mas a alma. É ela o que
realmente importa, sendo a fagulha divina implantada em cada um em um templo
que se deteriora com maior ou menor velocidade à medida em que, e como a
utilizamos.
A
alma limpa mantém o templo em forma por mais tempo em um mundo repleto de
razões para que as falhas ocorram e nos submetamos a elas, por impertinência ou
inocência. A escolha é sempre nossa, de acordo com o livre arbítrio, mas as
tentações aumentam a cada instante, como em um jogo de vídeo game, quando
superamos as fases e nos sentimos invencíveis, quase imortais. Por isso muitos
vivem suas vidas em busca de tal imortalidade, sem perceber ao nosso redor,
formas naturais ainda mais belas que nascem, crescem e morrem; com métodos
parecidos de defesa para garantir a sobrevivência, tal e qual os espinhos em
uma rosa.
Em
nossa arrogância podemos nos colocar no topo da cadeia alimentar até que
qualquer vírus invisível nos coloque em pânico e resolva nos eliminar. É o
instante em que todo o egoísmo aflora e a luta mesquinha pela sobrevivência se
manifesta através de atitudes rasteiras indesculpáveis.
Eu
sinto, a cada dia, as minhas imperfeições físicas. A minha luta é para conter
as imperfeições da alma; mas isso requer bem mais tempo e força de vontade. As
dificuldades aumentam e a pergunta que resta é se conseguirei, como qualquer
outro, alcançar antes que o templo que abriga a alma pereça. E isso é certo.
Marcelo
Gomes Melo
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