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Jamais falarei de amor!



          Eu nunca disse a ela que a amo. Nem nos melhores momentos. Jamais lhe falei a razão do meu sorriso mais quente, nem por que raios atendia às suas insinuações mesmo parecendo o contrário. De maneira alguma parava de mexer com ela, incomodá-la, deixa-la brava com as minhas piadas irônicas e cínicas.

         Com toda certeza ela não faz a mínima ideia do porquê lhe compro chocolates e a levo comigo para ver os filmes que eu gosto, e comemos pipoca e sorrimos e nos beijamos.
          Ela não imagina o motivo pelo qual eu passo as tardes de chuva em seu quarto, reclamando da vista só para fechar as cortinas e, à meia luz provoca-la e despir suas roupas, seus desejos, sua alma. Posso afirmar que ela se deixa seduzir e mergulha comigo em viagens que não incluem a mais ninguém, nesse mundo ou em qualquer outro. Ela não sabe que há um mundo só nosso porque eu nunca contei.
        Quando me abraça e encosta em meu peito, ela pode pensar que é carinho barato. Eu nunca contei sobre as sombras que ela afasta imediatamente, e a força que incute em meus movimentos.
         Como ela nunca me pergunta sobre nada disso, e sorri lindamente mantendo o nosso caso de amor na superfície. Amor do meu lado, se ela soubesse... Mas sou de ferro, forjado no fogo lendário das montanhas furtivas, invisíveis, mas inegáveis.
          Não vou contar que a amo. Ela não saberá por meus lábios selados. E não se importa com essas coisas de contos de fada que acontecem apenas a crianças, que vivem paixões alucinantes a cada semana, a cada dia, a cada hora. Essa mulher não é assim. Ela prefere morar no meu abraço sem saber dos meus segredos, e nunca me contraria os dela.



             Eu sei que consigo aplacar o seu desejo e diminuir-lhe as aflições, que os meus toques a deixam sensível como uma flor de inverno, e isso é tudo o que ela permite mostrar. Não conto que a amo nem sob tortura. Por mim jamais saberá. De mim jamais saberá.

          E não digo porque sei que a ela não interessa. Preciso conviver com esse fato como se fosse um culto, tornar a sua existência um jardim perfumado longe de qualquer problema que um amor como o meu lhe possa causar.
          Quando respiro fundo e acalento o seu sono eu só quero eternizar o momento, e fico quieto como um samurai, imóvel, com todos os pensamentos direcionados apenas para ela, enquanto houver som, enquanto houver luz... Ela é a paz que eu preciso. Por que destruir o que sinto apenas lhe falando de amor?



Marcelo Gomes Melo

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