Histórias de casais III: Final
orquestrado de um amor dançarino
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Nós nos conhecemos em uma festinha de despedida de solteiro – Falei o mais naturalmente
possível, mas a atenção das moças se redobrou automaticamente.
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Como assim? – perguntaram olhando para a minha garota, inquiridoras – Despedida
de quem?
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De uma amiga dela – sorri condescendente, mantendo o mistério inicial.
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E como é que você foi parar lá?! Não era uma despedida só com a presença de
garotas?
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Sim, Nanda, é por isso que eu estava lá. – Arlindo e Crescêncio caíram na
risada – Estava trabalhando, diga-se de passagem. – e contei, após um gole de
cerveja – Eu era gogo boy. Estava lá para dançar para as moças, seminu,
principalmente para a noiva.
A
surpresa das meninas foi completa. Ganhei toda a atenção que a curiosidade
misturada à bebida poderia conceder. Arregalaram os olhos significativamente
para uma impassível mulher, que não contribuiu com sequer uma palavra, até o
momento.
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Estava eu cercado pelas moças de frente para a noivinha bêbada e feliz sentada
em uma cadeira, rebolando sugestivamente ao som da trilha sonora de “A pantera
cor de rosa”, arrancando a máscara e a capa, ficando apenas de sunga e botas,
sensualizando para a sorridente noiva quando a vi entre as amigas, batendo
palmas meio deslocada, mas se divertindo. Todas eram bonitas, mas ela era
diferente. Parecia estar em um show do padre Marcelo Rossi, recata e discreta,
cantando “erguei as mãos...”, enquanto as outras falavam todo o tipo de
sacanagem já ouvida nos piores antros do planeta em todos os tempos.
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Ele era um bailarino sacana cheio de sorte! – debochou Arlindo – Nunca dançou
nada, mas enchia o bolso de dinheiro.
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Continue, continue! – elas pediram curiosas.
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Ela chamou mesmo à minha atenção quando colocou uma nota de cinco reais na
minha sunga do Batman, à altura do meu quadril esquerdo, timidamente...
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O quê? Ela fez isso?!
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Sim, fez. Não fez, meu amor? – nenhuma resposta – Aí eu pensei comigo: que raio
de mulher mais unha de fome! Cinco reais! As outras enterravam notas de cem e
de cinquenta reais no fundo da minha sunga. Eu já estava ficando de saco cheio
daquela música da pantera! – as garotas sorriam já embriagadas e ainda mais
curiosas – Trocaram a música para outra bastante gay, mas eram ossos do ofício;
mandei ver o som de “I’m to sexy”. Apareceu uma menina de uns dezoito anos que
aparentemente havia quebrado o cofrinho e trazia uns cinquenta reais de moedas
enfiadas em um saco plástico para colocar dentro da minha sunga. Dinheiro é
dinheiro, pensei comigo, e ainda bem que a festa estava no fim, porque dançar
carregando tanto peso era bem desconfortável.
Crescêncio
chama uma garrafa de champagne para aumentar o nível da noitada. Minha garota observava
as próprias unhas, indiferente. As outras pediram, então continuei.
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As convidadas me tascavam beijos pelas pernas e arranhavam a minha espinha
dorsal, enquanto a noiva gritava histérica e mandava ver no suco de vodca. –
voltei meu olhar carinhoso para a minha garota – Esse amor de doadora
financeira, entretanto, nem me tocava, apenas observava e batia palmas, após a
generosíssima doação.
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Caramba, que história de amor diferente! Conte mais! – pediu Linda, surpresa –
Como foi que se falaram, afinal?
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Ah! A noivinha começou a vomitar de tão bêbada e desmaiou em coma alcoólico,
então fui dispensado.. Enquanto eu contava a bolada e me vestia, satisfeito com
a féria, ela apareceu para agradecer e informar que as amigas estavam dando um
banho gelado na noiva, e que ela iria ficar bem.
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Foi nesse momento que você se aproximou? – perguntou Nanda.
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Sim. Cogitei devolver os cinco reais, ela me parecia com um aspecto esfomeado, “tadinha”...
Não é, anjo? – eu sorri charmosamente – Mas fazendo uma análise melhor resolvi
convidá-la para sair. Achei o seguinte: “Essa esfomeada merece um pouco de
atenção; vou levá-la para tomar Q-Suco de laranja e comer um churrasco grego.
Será a minha boa ação da noite”. Dei o meu melhor sorriso, chamei-a de docinho
e afirmei que queria pagar um caldo de cana e um sanduichão de mortadela. Sem dar
espaço para dúvidas, exigi que fosse pegar a bolsa e vesti minha jaqueta, indo
esperá-la no portão. Iria gastar todas aquelas moedas com ela!
Nanda
e Linda nem sabia o que comentar. Olhavam de mim para ela e vice-versa,
constrangidas e chocadas. Foi quando ela se manifestou:
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Eu não sei quem foi essa idiota que caiu nessa sua conversa machista e nojenta –
levantou-se, brava – Mas com certeza se enganou de mulher. Não era eu! – estava
furiosa – Acha mesmo que eu estaria com você se soubesse que era um reles
dançarino pornô? E anote isso enquanto dança; não quero ver essa sua cara
arrogante nunca mais, entendeu bem? – e saiu pisando duro completamente
irritada.
As
garotas logo foram atrás dela, prestar solidariedade e tentar acalmá-la. Nós,
os homens, ficamos os três calados, trocando olhares assustados.
A
garrafa de champagne chegou e Crescêncio abriu-a e serviu. Só então um de nós
resolveu falar. Arlindo.
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Eu não falei que era tiro e queda? Eu falei que ia dar certo! Foi melhor do que
você terminar o namoro. Deu a ela a possibilidade de sair por cima do
relacionamento!
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Você é bom, Arlindo, você é bom! – comentou Crescêncio admirado, erguendo a
taça.
Então
brindamos ao final orquestrado de um amor dançarino falso.
Marcelo Gomes Melo
Ela foi burra demais, poderia concordar com a historia e ainda construir o fim te humilhando perante todos, mas não, foi passional, aff... Tadinha rsrs
ResponderExcluirEu acho que ele foi burro demais, Silmes, em achar que essa seria uma saída ótima para dar o fora sem deixar a garota por baixo. Mas não existe essa opção, a não ser que seja a agarota e dispensar o cara. rs
ResponderExcluirParabéns amigo Marcelo pelo excelente espaço de cultura que tens aqui.
ResponderExcluirSucesso amigo.
AAP
Agradeço sua visita e sua gentileza, António. Volte sempre, é uma honra! Valeu!
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