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Resquícios do amor



... E então haverá o tempo em que viverás
Aquela paixão arrasadora e cruel
Que te arrancará do chão tal e qual
A uma árvore milenar açoitada pelo vento
Das tempestades irredutíveis
Que arrancam as raízes e te atiram
Ao espaço, totalmente vulnerável e mortal
E essa paixão te fará abdicar da razão
E todos os pecados se farão necessários
Para aplacar a sede incomensurável
Que ela tem de sugar tudo que te seja caro
Até que com a alma desnuda
Perguntas ao espelho se farias tudo outra vez
Mesmo conhecendo o final corrompido
Em que tu, mocinho da película juvenil
Te transformas na vítima perfeita
O exemplo cabal de como acabam aqueles
Tolos sensíveis que acreditam no amor
Devastados, sem rumo, a imagem do fracasso
 E ainda assim responderás, só a carcaça inerte
Com um sorriso tétrico e tenebroso
Evocando todos os sons da tristeza condensada
Viciado nos açoites e torturas intermináveis
Responsável pela guarda do claustro da dor
Responderás, sinistro como todos os imbecis o são
Que repetirias a jornada em troca do sorriso
Mais falso, do afago mais frio, da mentira perfeita
Porque o teu Norte, agora, e para sempre
Te marcará como um irreconhecível
Retrato da vida arriscada de quem ousa
Desafiar as paixões, torturado para sempre
Por um resquício, que seja, de amor


Marcelo Gomes Melo

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