Eu
agarrei a chance pelas pernas literalmente, porque não sou homem de limitar os
riscos, enlouqueço no café da manhã e acelero até a madrugada, não parando nem
para cochilar. Sendo esse protótipo de insanos personagens de filmes de ação,
fiz o que esperava de mim mesmo e caí ajoelhado na sala cheia de candidatos, de
paletó e gravata, abraçando-a pelas coxas, encostando a cabeça naquela saia de
tecido macio, balbuciando impropérios ininteligíveis e implorando, às lágrimas,
ser um dos escolhidos.
A recrutadora, surpresa, toda séria e
profissional não sabia o que fazer; ficou aturdida, pálida e constrangida. O
mesmo para a maioria dos concorrentes ali, chocados. Outros sorriram
nervosamente e a responsável tocou minha cabeça levemente, tentando me acalmar
e afastar. A expressão no rosto dela era de nojo pela suposta indignidade a qual
eu estava me submetendo e ao mesmo tempo aos presentes.
O que eles não imaginavam é que eu
tinha tudo calculado, o meu cérebro trabalhava a mil e as lágrimas escorriam na
quantidade certa para não estragar aquela saia caríssima. Chegou um momento em
que eu não pedia mais nada, apenas coaxava como um sapo, “por favor, por
favor...”.
Dois companheiros da moça,
funcionários da empresa, aproximaram-se e me afastaram dela. Eu já estava
preparado, não ofereci resistência, me estendi no chão frio, braços esticados
em posicionamento de adoração, beijando os ladrilhos, deixando claro a
necessidade que me acometia pela vaga.
A recrutadora retirou-se após algumas
palavras nervosas de agradecimento, pedindo que aguardássemos contato
confirmando ou não a vaga.
Um
a um os concorrentes foram se retirando. Alguns me ignorando, outros mais
sensíveis me tocavam dizendo boa sorte, demonstrando o bom coração embora a
minha conquista significasse a perda de um deles.
Os que me ridicularizaram
argumentariam que se tratava de apelo emocional para ganhar a vaga e a simpatia
e não por qualificação. Quando fiquei sozinho na sala levantei ajeitando a
roupa e secando as lágrimas com uma expressão entre cínica e enigmática. A vaga
seria minha.
Eu conheço a psicologia das massas, as
emoções, principalmente as humilhantes, e sei que a tendência hipócrita dos
latinos é abrir mão das coisas as quais merecem por causa de algum charlatão
que abandone a própria honra por um bom show de mentiras desonestas e
sensacionalistas. Acreditem, eu já fui político, enganei facilmente os meus
eleitores e fui rejeitado para um próximo mandato.
Por enquanto vou vender enciclopédias,
fazer contatos, esperar que esqueçam, então retornarei por cima com eleitores
suficientes para me recolocar na bancada do filé.
Marcelo
Gomes Melo
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