A
dose de conhaque que lhe molha as pernas para que eu lamba é insuficiente? Então
mantenha os olhos fechados e sinta o leve ardor da menta, que refresca as coxas
ao toque da minha língua.
As
fendas em que a paixão se esconde e nas quais os sabores vivem senão
descobertas pouco a pouco, se eu tiver o zelo e a paciência exigidas de um
homem cujo talento é lhe presentear com sensações inexplicáveis, capazes de
retirá-la desse mundo e revirar os olhos, completamente entregue às minhas
ferramentas da paixão que são nada mais do que o meu próprio corpo à sua
disposição.
Os
dedos curiosos que tocam tão suavemente que as digitais permanecem, e logo na
sequência aumentam a intensidade com urgência, e se colocam inteiros, e
exploram meticulosamente até arrancar suspiros e palavras sem nexo.
A
língua voraz, que tem a intenção de lhe contar segredos através do roçar ousado
que alivia a fome como a sobremesa antes do jantar, sem amainar o poder que tem
o manjar dos deuses para a lua alta, como testemunha, saborear, imaginando o
sol, o qual não pode tocar assim abertamente, sem receios ou pudores.
Por
fim, os pedidos loucos, sussurrados, insanos, que não aguentam mais esperar
para se desmanchar em estertores inesquecíveis, entre urros e gritos,
implorando por mais, e ao mesmo tempo querendo que termine para que não mate ao
passar do auge do prazer humano.
O
mover dos quadris, a respiração ofegante, entrecortada, os sussurros recheados
de promessas e agradecimentos, o coração acelerado como o sobe e desce,
exigente, forte, fundo, querendo tudo, tatuando corpos com o perfume e as marcas
que depois de algum tempo somem ao olhar alheio, mas ali permanecem para
sempre, basta encarar o espelho após o banho quente e as lembranças retornarão
ainda mais potentes, tornando o sabor na boca, e no pensamento, e no corpo
ainda mais realistas. É quando se percebe ser impossível escapar do amor
verdadeiro, feito com todos os sentidos, esculpidos para durar além da
existência.
Nus,
descansados em um torpor maravilhoso, abraçados com o calor dos corpos misturados
e o esquecimento do mundo lá fora, é quando percebemos haver um mundo próprio
para cada casal que se ama inexoravelmente, e se entrega sem temores, sem temer
as armadilhas, mantendo a sanidade ao retornar ao tempo comum, que corre sem
parar ignorando os problemas e obrigando-nos a duvidar do local sagrado que
habitamos no corpo um do outro.
Nesses
momentos somos imortais, minha senhora, e a importância disso é essencial
apenas para nós dois.
Marcelo
Gomes Melo
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