Beijando
os seus lábios com força naquele local quase escuro, a recíproca mais do que
verdadeira quase me surpreendeu, porque ela costumava resistir estoicamente ao
meu charme confuso e sem nexo, às vezes ironicamente, às vezes com sorrisos
descrentes retrucando às minhas sutis investidas sem uma resposta definitiva.
Isso
me levava à loucura e, irritado eu prometia desistir e resistir, partir para
outra que não se julgasse a última bolacha do pacote e não se dignasse a dizer
um não definitivo. Um porque não convincente, uma afirmação solene de que não
sentia atração por um homem como eu.
E
ali estávamos nos beijando furiosamente, ela entre a parede e o meu corpo,
minha coxa entre as dela fazendo pressão, impedindo-a de mover livremente o
quadril, o que ela insistia em fazer, aumentando aquele formigamento pelo
corpo, as respirações entrecortadas e as mãos explorando o corpo um do outro
com tesão incontido, e tudo era macio, aquecido e gostoso, o que só aumentava a
palpitação e o nível de exigências.
Começara
do nada, como tinha que ser. Nessa noite eu não instigara, nem fizera
impacientes perguntas sem resposta por parte dela, o que me deixaria com raiva,
e cínico a provocava, o que iniciaria mais uma discussão sem sentido, olhares
cheios de eletricidade e relutância de ambos, como se fosse uma disputa.
Da
minha parte parecia recusa, e isso doía no coração, me tornando um selvagem
interiormente, sem fazer ideia do motivo de suas negações. O estranho era que
às vezes parecia o contrário, um raio de luz por uma fresta a qual eu não
ousava alargar por orgulho e medo de ser recusado.
Não
havia razão para o que começamos. Mesmo que tentasse eu não conseguia lembrar
quem dera o primeiro passo e qual foi a fagulha que despertou o incêndio e nos
fez misturarmos os corpos com tanto desejo que a urgência venceu todos os
temores e a tentativa de discrição.
Enquanto
a despia e beijava, era despido e mordiscado; os corpos libertos dos cadeados
de pano desfrutavam do calor que emanavam livremente. Minha mão em torno de sua
cintura, as mãos dela em meu peito... A minha coxa que entreabria as dela e a
apoiavam sobre a mesa, me encaixando, em pé, entre elas.
Suas
mãos trêmulas em meus cabelos segurando com força exigia estocadas, suaves no
início, exigentes na sequência! O modo como erguia as pernas apoiando em meus
ombros expunha a crueza e beleza de uma paixão sem escalas, uma entrega total
em que as palavras se transformavam em grunhidos e o prazer era o objetivo
inerente, indiscutível e indissociável dos movimentos atarantados que fazíamos.
Quando
a virei de costas para mim, dobrada sobre a mesa, as mãos segurando a borda com
força, dispus-me a acaricia-la por inteiro com as mãos e com os lábios famintos
e sedentos, aos quais ela reagia em movimentos de extrema beleza; provocantes,
que quase imploravam para que eu continuasse a exploração, não me fiz de rogado
durante toda a madrugada, sozinhos no prédio à meia luz, no escritório da
empresa no qual escorregamos para o tapete, consumidos por sentimentos
inenarráveis, indistinguíveis, adultos com uma pontinha adolescente no
conhecimento íntimo um do outro, até que alcançamos um êxtase maior, que nos
tirou a consciência e nos fez gritar de satisfação, em seguida, abraçados,
controlando a respiração... Adormecemos assim, nus e abraçados, felizes e
saciados.
De
manhã, antes de o expediente começar ela já havia se retirado sem que eu
percebesse. Foi um dia seguinte incoerente, de emoções inconclusivas, ambos com
as mesmas roupas do dia anterior, não sei se notaram. Não nos falamos, mal
cruzamos os olhares, entre envergonhados e felizes.
O
mundo continuava igual, a não ser para nós dois, que naquele momento vivíamos à
parte, recordando cada segundo e retomando os arrepios e desejos. As perguntas
apenas se acentuaram em nossos cérebros sexualmente dominados: haveria outra
vez? Por que houve uma vez? Por que foi tão... Bom?! Como iríamos viver dali em
diante? Cupido veio armado e nos metralhou dessa vez? Com o coração aos saltos
passamos o dia pensando se haveria alguma chance de nos encontrarmos sozinhos
no elevador...
Marcelo Gomes Melo
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