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A rainha de todos os encantos



Ela era o encanto dos jovens, a atração dos adultos, a paixão voraz dos maduros. Sabia como atuar sem se comprometer, à procura de diversão sensual, aprendizado tântrico, sexo sem compromisso.
E misturava a essas aventuras conversas triviais, lembranças de uma juventude problemática e a sede pelo conhecimento obscuro com o qual sempre sonhou.
Desde menina aprendendo a controlar a quem quer que fosse do sexo oposto, através de artimanhas intuitivas que não sabia de onde vieram, até aperfeiçoar com o passar dos anos, transformando-se em uma rainha imbatível em ser santa de dia e promessa de pecado a cada noite.
De vez em quando era obrigada a arcar com apostas erradas que as machucavam e obrigavam a fugir, mas sempre superava com as armas que possuía, naturais e artificiais.
Ela era o sentido para a vida dos fracos, o troféu dos poderosos e a glória para os comuns. Conseguia transitar normalmente entre todos, e suportava o destino com garra e elegância. Não era passível de confiança, jamais! Diga-me, porém, quem desses homens procura por confiança em um campo de batalha amoroso que acaba em tristeza e álcool? A morte vira prêmio de consolo, nesses casos. Os que vivem tentam e tentam novamente, perdendo o que têm, inclusive a dignidade, sem reclamar quando caem entre as rosas e se veem pisoteados pelos concorrentes mais fortes, que seguem os rios de sangue e prazer até que tudo termine em desordem física e mental.
Ela é a rainha de ouros, a dona do improvável, a sirene que dispara no cérebro de madrugada e atropela a razão dos incautos. Ela é suavidade entre as pedras que rolam e soterram os pedintes por um gole de sua atenção.
Os sinos do templo dobram três vezes e as águas do mar, geladas atingem as rochas com violência. Isso lembra as promessas de amor que ela jamais fazia diretamente; demonstra a avidez com a qual ela encontra o que é novo para acrescentar aos seus conhecimentos pervertidos.
A deusa do século novo é voraz sob o manto de uma tristeza chorosa e suave que fisga com facilidade a todos os que estão dispostos a vender o que lhes marca o corpo por uma dose de paixão, ajoelhados sob o poder imenso de sua falta de lealdade.


 

Marcelo Gomes Melo


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