O
dilema dos séculos: amar ou odiar?
Amar
é doloroso demais. Temer por alguém, não poder sempre estar perto para
proteger, alimentar, sorrir e dividir as angústias porque sempre se quer poupar
o motivo de sua paixão e assumir todos os problemas. É um erro, entretanto,
porque o mesmo desejo vem de ambos, e é impossível conciliar, gerando
conflitos.
O
amor é o prêmio maior que, assim que alcançado consome os dias dos abençoados
por ele com alegria e felicidade capazes de fazer o coração parar; ao mesmo tempo
incute um sofrer assassino que corrói por dentro, faz desconfiar das faculdades
mentais e cometer as atitudes mais confusas e problemáticas do mundo.
As
noites de vigília por uma saúde conturbada, ou por peripécias amorosas que
invadam corpo e alma com um prazer incontável torna a vida intensa e espinhosa.
As dúvidas causadas do nada, acalentando uma desconfiança que provoca brigas,
acusações, ofensas, e depois remorso infinito, difícil de consertar se não
houver capacidade plena para o reconhecimento das falhas e a humildade capaz de
restaurar a confiança sem mudar as histórias felizes do passado.
Enquanto
cura o amor deixa marcas profundas, cicatrizes que sempre voltam a doer,
torturar e afetar a relação que estava boa e saudável. As sombras como uma
nuvem escura sobrevoam as cabeças dos perdidamente apaixonados, mesmo em dias
de sol, à espreita para invadir qualquer fresta no sentimento bonito e causar
tempestades, adoecendo e até matando a quem instantes antes se julgava um deus
na Terra, iluminado pelo amor imortal em um jardim perfumado lotado de
promessas reais e palpáveis.
Assim
é o arguto amor, que presenteia e amaldiçoa, incentiva e encaminha para o
abismo. Toda a sensação inigualável de sonhos e paixões, todo o estremecer que
as melhores sensações eternizam pode ser afogado em um mar de lágrimas e um
turbulento oceano de dor da noite para o dia, tirando o juízo e decretando a
entrada sem volta no inferno em vida.
Por
essa razão odiar provou-se mais fácil, mais sólido e suportável, pois saborear
a raiva para degusta-la fria encerra uma ambição alcançável, sem dúvidas e sem
o temor de quem pensa apenas em defender e salvar.
Teoricamente
quem odeia sofre menos, e quem se vinga alivia o espírito com a calma das águas
paradas, e o distante azul do céu sem nuvens. Odiar aparentemente fortalece e
dá foco, promete superação constante por apenas um objetivo, que ao ser
realizado findará todo o mal que habita o possuidor desse sentimento cruel.
Quando
a vingança se completa, a pegadinha aparece, inclemente. O ódio não traz
tranquilidade, nem paz, apenas um vazio pior do que a morte, transformando o
vingador em algo menor do que um ser humano, um zumbi sem alma e sem rumo.
Tudo
isso é o que causa o dilema que se sobrepõe ao homem por séculos: o que é menos
ruim, amar ou odiar? Cadáveres apaixonados misturam-se aos mortos hediondos na
mesma caminhada rumo a ladeira do julgamento final.
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