Virgulino
Wayne era paulista, filho de Lindoswaldo Wladimir, um nordestino que veio para
a cidade grande em busca de sucesso profissional e pessoal numa época em que
São Paulo era considerada a terra da promessa, o paraíso dos empregos... E
tinha até água!
O
pai de Virgulino viera em um pau de arara e vivera em pensões por vários anos
até se acertar na vida. Aprendera coisas importantes para a sobrevivência, por
exemplo, assaltar lata de goiabada sem que o dono percebesse. Bastava abrir a
lata pelo lado inferior e ir comendo aos poucos, deixando a lata na mesma
posição para que o dono percebesse que já estava aberta.
Nesse
período Lindoswaldo trabalhara como auxiliar de pedreiro em obras grandiosas que
os políticos construíam com o intuito de entrar para a história. Era um homem
sortudo com a mulherada nos forrós do nordeste; dançava muito e fazia subir o
poeirão, jamais voltava para casa sozinho, e sempre tinha uma garrafa de pinga
e uma rapadura para adoçar a boca das amantes. Na cidade grande achou que
manteria a sorte, só que se decepcionou. Nenhuma lhe dava bola; era ignorado
pelas beldades mal vestidas da capital paulista. Sofreu sem amigos, sem
mulheres e teve vontade muitas vezes de retornar para a sua terrinha, mas
resistiu firmemente. Cabra macho nunca dá o braço a torcer.
Essa
resiliência garantiu ao pai de Virgulino Wayne uma série de ganhos futuros em
sua vida. Conheceu o CTN, Centro de Tradições Nordestinas, local maravilhoso em
que migrantes do nordeste se reuniam para matar saudade da terra comendo pratos
típicos como buchada de bode, dobradinha, sarapatel, bebendo cachaça nordestina
e conhecendo conterrâneos, caindo no forró como se fosse o último da terra. Lá,
Lindoswaldo conheceu Givanilda, o amor de sua vida.
Eles
se casaram em um mutirão de casamentos organizado pelo governo em um estádio de
futebol e foram morar em uma invasão de terras que anos depois foi legalizada,
podendo construir uma verdadeira mansão de tijolos aparentes. Mudou de
profissão e alcançou novo status passando a ser amolador de facas e tesouras em
domicílio. Para isso investiu em uma bicicleta com cestinho reforçado no qual
levava as ferramentas.
Lindoswaldo
Wladimir se deu muito bem! Um empreendedor e tanto, vindo da terra seca longínqua
no interior do nordeste, bem distante da civilização das cidades praianas, para
alcançar seus sonhos na selva de pedra.
Ia
sempre com Givanilda assistir aos filmes de Charles Bronson, Bruce Lee e Van
Damme nas tardes de domingo, ambos felizes. Quando soube que a esposa estava
grávida, exultou! Tomou duas garrafas de Pitú em comemoração, e assim que
descobriu que seria um menino, batizou com o nome dos seus maiores ídolos:
Lampião e John Wayne.
Seu
rebento foi criado com leite de égua, farinha e culhões de bode assados.
Treinado para ser macho maxixe doce. Paulistano com alma nordestina, herdeiro
da força que ajudou, com muitos outros migrantes e imigrantes a construir o
desvario do mundo, a maior cidade da América Latina, os arranha céus mais
deslumbrantes de uma terra cosmopolita, misturas de raças e culturas que a
torna mais poderosa e acima de conflitos mesquinhos. A sombra de Deus.
Virgulino
Wayne foi ensinado a ter sempre a última palavra em sua residência, como o pai.
Nada de abdicar dos direitos de chefe da família! Tanto que agora, adulto e
empresário influente, dono de milhões em propriedades, a palavra final em sua
casa estava sempre na ponta da língua: “Sim, querida!”.
Marcelo Gomes Melo
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