A
maravilhosa sopa do motel
A sopa do motel era boa
pra caramba! Eu descobri isso por acaso, numa gelada noite de sábado, dia dos
namorados, quando fui comemorar com a minha namorada.
Eu sempre fui o rei dos motéis baratos, desde a época de
colégio, quando podia só podia pagar por uma cama em um período de duas horas,
sem som, sem vídeo pornô e muito menos hidromassagem. Minha namorada era uma
verdadeira turista de motéis, amava conhecer tudo quanto é bocada, dos mais
caros às bocas de porco. Fotografava o lado de fora e os quartos, para manter
um registro de todos os motéis que conhecia em um book histórico, que mostraria
aos filhos, quando os tivesse. A teoria defendida por ela, com a qual eu
concordava plenamente era “o importante é ser feliz”. Filósofa, a menina.
Nesse específico dia dos namorados, sábado, os motéis e
hotéis estavam lotados, com fila de espera. Sabe quando ficam três ou quatro
casais em uma salinha com sofás e cortinas vermelhas, as garotas tomando
guaraná e os caras conhaque, todos um tanto sem graça, olhando para o vazio,
esperando vagar um quarto para fazer o amor do dia dos namorados, “dar uma
petecada”, “afogar o ganso”, “dar um tapa na cachorra”, “envelopar e selar a
tanajura”.
Muitos iam de paletó e gravata, idênticos aos que iam fazer
exame de fezes; outros levavam flores. Umas estavam de óculos escuros e blusa
com capuz, mesmo à noite. Que moda esquisita!
Minha garota e eu não gostávamos de esperar, então saímos
procurando, até que, por volta de meia noite encontramos aquele motelzinho de
bairro, bom, barato e com um quarto disponível. Teríamos direito a um espumante
e um frango assado. Caso pernoitássemos teríamos direito a uma sopa, também.
Rapaz, eu tinha recebido o pagamento, então... Pernoite!
Foi muito louco! Cama grande com colchão d’água, facilitando o sobe e desce do
amor. Brindamos com espumante e espalhamos o restante do líquido precioso pelo
corpo para realizarmos a brincadeira do tatu.
Lá pelas tantas a fome
apertou e dilaceramos o frango assado com cerveja, acomodados na banheira de
espuma. Óleo de comida misturado com sais de banho, delícia das delícias! Entre
beijos e cócegas, mergulhos na banheira espalhando água pelo chão, falei pra
ela que o frango assado me dera uma boa ideia, e saímos os dois ensopados
direto para a cama, dispensando as toalhas e molhando os lençóis. Dia dos
namorados macabro! Mas nos dávamos muito bem, minha garota e eu.
Por volta das oito da manhã, nublado lá fora, tempo
chuvoso, pernas bambas... Peguei o interfone e pedi a sopa. Foi amor à primeira
vista! A sopa era boa demais! Eu jamais ouvira falar em motel servindo sopa;
não os que frequentávamos, mas aquele fora um achado!
A partir daquele dia passamos a frequentar apenas aquele
motel, duas vezes por mês. Chegamos ao ponto de pedir a substituição do frango
assado por duas porções de sopa cada um. Aquela sopa deliciosa foi um acessório
e tanto nas nossas brincadeiras de amor.
Quando brigávamos, a reconciliação se dava no motel, regada
à sopa. Estávamos viciados; chegamos a cogitar que haveria substâncias ilegais
no tempero, mas não havia nada disso. Passamos a ser considerados clientes VIP,
com descontos e quarto reservado; bastava ligar dois dias antes. Ambos
apaixonados pela sopa dos deuses!
Entretanto, nada dura para sempre. Não é esse o mantra da
vida amorosa? Sombras e relâmpagos, bombas de gás lacrimogêneo, pedradas na
janela da paixão bombardearam nossos cérebros e acabamos por terminar a
relação. Aí, adeus sopa!
Eu só comecei a ficar desesperado após os dois primeiros
meses sem a sopa. Fui â luta como um lunático em busca de outra namorada. Recorri
às mais antigas cantadas, mas fui vítima da velha síndrome do recém-solteiro.
Quando o camarada está sem namorada, aparecem várias candidatas, mas quando
está sozinho parece repelente de mosquito, nenhuma te quer!
Juro que pensei em ir sozinho; pensei até em levar uma
boneca inflável, só que fiquei com vergonha de ir ao motel apenas para comer
sopa, não concordam? Outra possibilidade era contratar uma profissional do
ramo, entrar lá, comer e sair fora, satisfeito. Boa ideia!
Antes, porém, uma última
cartada. Abordei a minha ex no horário de almoço dela no trabalho. Ela aceitou
conversar. Perguntei como estava; já não nos víamos havia seis meses! Será que
não sentia falta da sopa gostosa do motel? Ela sorriu, encabulada e disse que
sim, desde que terminamos não havia nada de sopa para ela, e estava doida de
vontade!
Sorrimos embaraçados e aproveitei para fazer o convite...
Será que não poderíamos relembrar os velhos tempos e degustar a sopa do nosso
motel preferido? Em nome dos velhos tempos? Ela ficou sem graça e já me toquei
de que havia algo errado.
Ela deu a lambada de uma vez só! Estava noiva e já tentara
ir até o motel com o sortudo, mas o cara não curtia sopa, preferia salada de
pepino. Infelizmente não iria rolar Fiquei visivelmente arrasado. Me desculpei,
desejei boa sorte e saí caminhando atarantado, com as mãos nos bolsos, confuso
até o talo.
Pensa que me importava com o noivado dela? A chance de
voltarmos era inexistente, eu queria mesmo era comer a sopa! Agora estava
psicologicamente aturdido, com ódio do mundo e das garotas que não me davam
bola. Quando me dei conta estava em uma zona do baixo meretrício e escolhi a
primeira dona que me assediou. Mais alta do que eu, com uma peruca loira e
rosto pintado em excesso. Nem sei como aquela coisa feia, aquele rascunho do
capeta pegava alguém. Só bêbados ou loucos por sopa, como eu!
Isso não importava. Fiz a proposta e ela topou fácil; duas
horas de programa e levaria cem reais; tive que pechinchar, a sacana queria o
dobro!
Acordo feito, fomos
direto para o motel. Fui recebido como sempre, com sorrisos e cumprimentos.
Devem ter estranhado o meu par, mas ninguém comentou nada. No pacote, o de
sempre, frango assado, cerveja... Ela pediu conhaque. A mulher propôs irmos
para a banheira de espuma. Topei, mastigando uma coxa de frango. Entrei primeiro.
E aí veio o primeiro susto! A danada era travesti! Quase engasguei com a coxa
de frango! Saí logo da banheira explicando, sem querer ofender, que esse não
era o meu tipo de fetiche. Garanti que receberia o pagamento, desde que
mantivesse a distância regulamentar. O meu medo passou a ser levar um processo
por homofobia!
Assim que contei minha história, ele, quero dizer, ela
entendeu bem e ficou até curiosa para experimentar a sopa. Sorrindo de alívio “interfonei”
para pedir quatro porções de sopa, caprichadas. Nova bomba!
A atendente explicou que não havia mais sopa porque a
cozinheira pedira demissão e voltara para o norte, com saudade da família.
Agora teriam a honra de nos servir mariscos em vez de sopa. Endoidei!
Comecei a destruir o lugar, gritando, completamente
descompensado. A minha acompanhante pegou a grana e saiu rapidinho, enquanto eu
tocava fogo nos lençóis. Incendiei o motel num surto de loucura. Ninguém se
machucou; fiquei com os cabelos tostados e algumas queimaduras.
Hoje estou aqui,
cumprindo pena nesse hospital psiquiátrico, tentando provar que posso voltar a
conviver em sociedade. Enquanto isso tomo a terrível sopa de osso de frango do
hospital e bebo água com muitas pílulas. Ironia do destino.
Marcelo Gomes Melo
Envelopar e sela a tanajura, para mim é novíssima, nunca tinha ouvido falar, kkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirAin Marcelo vc é demais mesmo, parabéns.
Vir ate aqui é sempre muito agradável.
E essa musica do Kleiton e Kledir é uma das mais perfeitas melodias de amor sensual que existe.
Tenho ela em minha play e favoritas.
Isso aeee rsrs
A honra pela sua presença é minha, sinta-se à vontade. Quanto às expressões, há centenas delas, nãos e engane! rs...Valeu!
ExcluirMARCELO
ResponderExcluirOlá amigo..
Na verdade relutei um pouco para vir ler esta sopa de motel..rsrsrs
Pensava ser uma matéria adulta, não que não leia, mas minha curiosidade foi maior e agora estou conhecendo a sua famosa sopa de motel, que é realmente no sentido da palavra sopa do motel, o papel principal desta matéria.
Interessante, às vezes acontece isso de a gente gostar de uma comida e depois querer voltar a este lugar apenas no intuito de fazer o que você fez, claro que no seu caso houve algo mais que a sopa e você voltou outras vezes, mas enfim isso não importa, o mais importante é que a gente deve sempre saciar as nossas vontade.
Mas o final teve seus imprevistos, contudo ninguém é perfeito..
Homem brabo..rsrsrs
Deixando meu abraço.
ClaraSol