Os
terrores de cada um
Foi uma reação em
cadeia. Ela me beijou, a luz acendeu. O cachorro latiu. O marido entrou, soltando
chamas pelo nariz. Armado com uma metralhadora. Lembro-me que gritei. E acordei
suado, apavorado.
Ela entrou no quarto sorrindo. Abriu a janela, a cortina.
Espera aí, tem alguma coisa muito errada aqui, pensei, desconfiado. Olhei a
minha aliança na mão esquerda. Ela, imperturbável, perguntou: “Outro pesadelo,
meu amor?”. Sorri sem jeito. Não respondi. Também, nem deu tempo! O mesmo cara
do sonho invadiu o quarto portando um facão, berrando impropérios. Larguei o
lençol e fiquei em pé sobre o colchão, pronto para me defender. Então notei que
estava nu e usei as duas mãos para defender os meus pertences. A facada veio na
diagonal, do pescoço à cintura. Pelo menos iria morrer intacto, se ser
castrado.
Dessa vez acordei ofegante, quase engasgado. Sozinho no
quarto. Sobre o criado mudo uma garrafa com água e um copo. Suando em bicas,
tomei uns goles, tentando acalmar um coração... Foi quando senti uma mão suave
subindo pela minha coxa. Congelei. Virei para o lado e lá estava ela, na cama,
nua comigo, os cabelos soltos, sorrindo encantadoramente, um convite entre os
lábios...
Dessa vez o cara saiu
de dentro do armário, armado com um porrete, sangue nos olhos, armadura
metálica da cor da do homem de ferro. Abracei-a, e com a outra mão tentei
proteger a cabeça da porretada! Acordei chacoalhando a cabeça, olhos inchados,
a boca seca. O barulho era ela batendo os travesseiros. Beijou-me a testa com
um bom dia caloroso e perguntando se eu queria café.
Antes que eu respondesse, o cara, que estava embaixo da
cama, se arrastou como um soldado profissional, de capacete, carregando um
escudo com uma estrela e uma granada. Arrancou o pino com a boca e atirou-a
sobre mim, protegendo-se com o escudo. BUUUUMMMMM!
Acordei massageando a cabeça, espalhando os cabelos, com
vontade de fazer xixi. Fui ao banheiro, molhei o rosto com água fria, olhei no
espelho... Ela, por trás de mim, acariciando-me as costas com os seios e
beijando-me mil vezes os ombros, as mãos espalmadas em meu peito. Virei o corpo
para beijá-la, imprensando-a contra o meu corpo e a parede. O monstro saiu do Box
sob o chuveiro, com uma tesoura enorme para podar plantas, todo molhado,
jogando pedaços do vidro que destruiu facilmente sobre nós. Agora não tem
jeito! Encolhi-me tentando protegê-la com o corpo. Senti uma dorzinha na
cintura.
Acordei novamente, em
palpos de aranha. Ela me beliscara para que acordasse e estava me dizendo:
- Levanta que já está na hora! Você teve um sono inquieto
essa noite, meu amor, que coisa!
Como continuei ali, sentado na cama, atordoado, procurando
o camarada em todos os lugares, pronto para reagir, ela continuou a falar, com
as mãos lindamente apoiadas nos quadris:
- Não finja que esqueceu que temos churrasco na casa dos
meus pais, hoje, e já estamos atrasados! Ele já ligou aqui umas dez vezes. Sabe
que o velho está ansioso para contar a você sobre as aventuras dele no exército
e explicar como gerir as oficinas mecânicas. Não podemos faltar!
Marcelo Gomes Melo
E eu que pensava que tinha pesadelos, perto de vc, eu tenho lindos sonhos coloridos rsrs
ResponderExcluirBom fim de semana Marcelo.
Rs...Cada um com os seus sogros desesperadores, Silmes. Obrigado pela leitura e comentário enriquecedor! Valeu!
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