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Ignóbeis sensações



         Eu me afundava em seus cabelos escuros e absorvia aquele perfume suave; permitia a mim mesmo inebriar o meu cérebro ao ponto de parecer patético como um passarinho alimentando-se de sobras, aos poucos, sem nenhuma outra intenção contumaz.

         Quando me dava conta reclamava da ausência de retorno, ela era indiferente a arroubos sentimentais, vivia de diversão momentânea, corroendo sentimentos puros como se degusta amendoim em um parque, sem pensar muito nisso, descartando as cascas com o pensamento longe.
         Ninguém se satisfaz. Cobram coisas um do outro impossíveis de obter. Ela pensa friamente, aceita mentiras de amor e ignora o troco, simplesmente vai embora para outras percepções, conhecimentos, um tipo de felicidade seca, que se parte no meio do prazer, deixando a nítida sensação de que não foi o suficiente culpando a vítima por não concluir os desejos individuais de quem não pretende retribuir.
          Pensar nisso enquanto o espaço entre os corpos se encurta é simplesmente impossível; todos os que tentaram foram derrotados, saíram desapontados e se achando injustiçados.
          Não percebem que ela, que controla os botões da situação sai tão ferida quanto, mas não consegue consertar porque se acha a única vítima, não notando o rastro de sangue que lhe segue pela estrada infindável.
          Amor? Não há. Prazer? Talvez, caso consiga definir. Confiança? Nenhuma, a não ser na chegada mais cedo ao precipício, ou mais tarde, para prestar contas sabe-se lá a quem.



Marcelo Gomes Melo
 

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