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Rotina do amor estressado

          Urrei o nome dela! Urrei com todas as forças do meu ser. Quase destrocei os pulmões e o rosto se arroxeou como o saco do Fernando Collor.
          Tal e qual Fred Flintstone berrei alucinadamente por ela! Em câmera lenta, minhas bochechas tremularam como as de um buldogue, e perdigotos se espalharam, levados pelo vento.
          Sambei pelado, girando sem sair do lugar, sem me importar que a chuva me atingisse através da janela aberta, formando uma poça sob os meus pés.
          O nome dela foi ouvido no quarteirão inteiro, meus braços abertos como os do Cristo Redentor, os olhos desfocados pela concentração, lembrando Marlon Brando em “Um bonde chamado desejo”.
 
          Meus lábios arreganhados permitiram que todos os meus dentes de tubarão ficassem à mostra, e o ar que passava entre eles tornava os uivos em uma sinfonia tétrica e cômica, alternadamente.
          Escorreguei na poça já enlameada e caí no meio do quarto, tentando me agarrar aos lençóis, desarrumando a cama antes impecável.
          Gemi como uma criança mal educada, dessas que esperneiam no meio do shopping envergonhando aos pais, depois de levar uns safanões. Levantei o corpanzil com dificuldade, deslizando na lama como Carlinhos de Jesus na avenida, durante o carnaval, mas sem o sorriso e a classe.
          Apoplético, renovei as forças e urrei pela última vez, certo de que desmaiaria a qualquer momento por falta de energia, por isso fui mais enfático. A voz mudou de tom várias vezes, saindo de Emílio Santiago para Tiririca, e de José Carreras para Bee Gees; no final do urro era uma mistura de Rod Stewart e The Cissors Sisters.



          Ela finalmente atendeu ao meu apelo, e parou, completamente chocada ao ver minha situação, ali, pelado, molhado, cama desarrumada, arroxeado... Cobriu a boca com as duas mãos, pensando sabe-se lá o quê.

 
          Só aí pude fazer meu apelo, meu urro valer a pena, e perguntei, choroso: “Sebastiana, cadê a minha cueca?!”.
 
Marcelo Gomes Melo

2 comentários:

  1. Caraca eu pensando que estava morrendo ou algo do tipo kkkkkkkkkkk
    Parece eu no drama. Ai ai morri aqui.

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  2. Nada como um bom drama, Silmes, para mostrar a dependência masculina total e completa, a esse ponto. Valeu!

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