A morte do pedreiro
A
morte do pedreiro causou comoção total na vila. Demorou para que todos
acreditassem no seu passamento, porque para aqueles vizinhos de bairro, para os
amigos e conhecidos o pedreiro era imortal.
Era ele quem determinava a quantas
andava a economia local, apenas pelo poder de observar: se estava cheio de
trabalho, contratava dois ou mais auxiliares significava que a economia ia bem,
obrigado, e todos os outros estavam bem profissional e financeiramente, eram
tempos de vacas gordas e os moradores andavam felizes e audazes, implementando
mudanças em suas residências, construindo puxadinhos para lavanderias, quartos
para filhos recém casados e para abrir comércios informais, gerando renda e
eliminando a tortura do desemprego.
Caso o pedreiro ficasse dias em sua
rede na varanda, com latas de cerveja vazias à sua volta e a mesma camiseta
regata encardida e barba por fazer, retratava tempos de recessão e o povo
caminhava na mesma toada, procurando emprego, sofrendo com a inflação,
reclamando do governo corrupto...
O pedreiro era o termômetro da vida,
mantinha o bom humor para superar os obstáculos, sempre soltava uma frase
filosófica que animava a todos e os impelia a continuar a batalha.
Era essencial ter o pedreiro por
perto, para o bem da região, a autoestima do bairro, a felicidade geral da
nação. Mas o pedreiro morreu trabalhando, o que fazia dele um herói, um mártir,
um homem acima de qualquer suspeita. Isso porque jamais se metera com
sindicatos, nunca participara de ONGs, demonstrava ojeriza por políticos
profissionais e jamais aceitara qualquer sugestão para se tornar candidato.
Morrera
como um anjo, disseram, despencando da construção mal planejada por engenheiros
maquiavélicos, com material de terceira categoria. Soterrado por toneladas de
concreto e ferragens, coberto de pó até o último fio de cabelo.
O pedreiro ficaria no pensamento dos
vizinhos para todo o sempre. Um altar em sua homenagem representaria a sua
importância enfeitado com flores e velas. Até que fosse caindo no esquecimento,
coberto por pichações e vandalismo em geral, tendo o mesmo fim que todos os
heróis nacionais, produzidos pela mídia ou não, até roer todos os ossos. O
esquecimento.
Marcelo Gomes Melo
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