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Eleições! Candidato agressivo



            Ei, vote em mim! Não seja estúpido, vote logo em mim! É com você que estou falando, ô miolo mole. È, você mesmo aí coçando essa miserável cabeça piolhenta e olhando desconfiado para os lados. VOTE EM MIM!

          Será que precisarei desenhar, decalque da estupidez humana? Estou lhe ordenando que vote em mim sem pestanejar porque tenho certeza do que estou fazendo. Eu sou a melhor opção para você. A única opção! O quê? Está franzindo essa testa imbecil, filhote único da ignorância?! Eu sou o seu candidato, me respeite! Respeite a si mesmo, vou representar a horda de vagabundos da sua família!

          Se eu lhe digo tudo isso é porque sou um candidato sincero, preparado. Outros beijarão seus pés sujos, pegarão suas crias nojentas no colo, disfarçando todo o asco que sentem! Eu jamais chegarei a menos de dez metros de você. Não irá me infectar com essa lentidão de pensamento. Acha que quero roubá-lo, caso vote em mim?!

 
           Larga a mão de ser besta, eu não preciso roubá-lo, tapado, você não tem nada! Eu vou lhe arrumar um emprego. Sua saúde está péssima; esses olhos caídos, essa pele esverdeada, essa boca molenga, sua anta flatulenta. Você vai ter hospital! Vai ter cesta básica! Está preocupado com os outros? Esse roupão nojento que está usando será substituído por pijamas de seda chinesa, animal rastejante!
          Os outros que se danem. Você será privilegiado, vote em mim. Acredite no mestre!
          O que, canalha?! Com medo da patroa?! Tire esse traseiro flácido da cadeira, após a propaganda política e vá até a cozinha. Descalço, para não tropeçar nos chinelos velhos e parecer um perdedor maldito que ele já sabe que você é! Diga a ela em alto e bom tom que irá votar em mim, e ela também! Seja macho, covarde ignorante, ordene. O voto dela lhe pertence. Férias?! Sim, vocês terão férias na praia, eu tenho certeza. O futuro é colorido, embora você seja daltônico. Diga a ela! É você quem manda, após a eleição.
          Acha que farei alguma coisa contra você? Eu não farei nada. Absolutamente nada!
          Você é um ratinho branco, criado para experiências científicas, tem dúvidas? Farão testes com você e sua família para melhorar a vida dos outros, e seu olhar cabisbaixo não se acende? Tire esse dedo podre de dentro do nariz! Pense, pateta sem valor! Transformarei a você e sua família em ratazanas de esgoto. Ratões bem alimentados, espertos, que saberão ficar longe das armadilhas dos outros.
          Sim, adjunto do capeta, venha para a luz. Eu salvarei sua torpe alma, sou o candidato da paz, do amor e da contenção de despesas (dos outros); mas não para você. Terá água para o banho, cerveja para a sede, reality shows para o sonho.
          Lembre-se do meu número, do meu nome e do meu rosto (após eleito me esqueça). Mova-se até o meu comitê de campanha, agora! Encha a mão de panfletos e a boca de salgadinhos, faminto profissional. A sua sorte mudou, cão miserável!
          Vote no homem. Vote no mito. Vote sem medo. Acalmarei a sua mente irrisória em conflito. Não se assuste, eu não farei nada. Nada, entendeu? NÃO FAREI NADA!
 
 
                                Marcelo Gomes Melo

2 comentários:

  1. São sempre úteis e maravilhosos essa classe de "cavalheiros" tão amigos do dinheiro do povo... perdão, do povo, desconsidere se faz favor, o dinheiro.

    Só não percebo porque não gosto deles...

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  2. Parece que todos eles são iguais, Luísa. O poder os transforma. Sempre para pior.

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