Zoológico
humano, a disposição para a degradação.
Há alguns anos uma rede
de televisão inglesa, a BBC, talvez, realizou um documentário interessante
denominado “zoológico humano”, no qual reuniam diversas pessoas de diferentes
níveis sociais, intelectuais, com visões de mundo completamente antagônicas, de
gerações diferentes e expectativas individuais totalmente diversificadas,
colocando-as juntas para que convivessem durante um período de tempo e
respondessem a testes e competições em grupo, sendo estudadas psicológica,
filosófica e socialmente por cientistas dessas respectivas áreas. A ideia era
descobrir as reações individuais e coletivas de cada participante, registrando
as alterações causadas pelas convicções trazidas do berço, fossem religiosas,
políticas ou morais para a adaptação na vida em comum.
Cabe ressaltar que esse estudo aconteceu antes da “chegada
salvadora” dos reality shows estilo big brother, e que não tinha qualquer
recompensa financeira nem prometia fama e status de celebridade. Não requeriam
talentos específicos ou especiais como desinibição, sensualidade, beleza e
exibicionismo, ausência de caráter, disposição para se vender e realizar
qualquer coisa em troca de reconhecimento financeiro ou agrado material como
automóveis e premiação de consolo como participação em orgias usando fantasias
esquisitas, fartura de bebidas e comida.
O comportamento das pessoas era o mais natural possível,
porque o ambiente preparado para que convivessem refletia a rotina diária de
pessoas normais e não uma imensa boate dos prazeres na qual os
candidatos/concorrentes fingem ser quem não são a todo momento, apregoam o ócio
como qualidade e objetivo de vida, o culto ao corpo em detrimento do cérebro, e
maquinações sórdidas em que a capacidade de mentir, trair e enganar parecem ser
requisitos primordiais para vencer e encher o bolso de dinheiro.
Anos depois, a
descrição acima denota qualquer reality show no Brasil, e o espanto que causa é
o interesse que desperta em grande parte dos telespectadores em assistir esse
espetáculo de degradação moral e social.
Os escolhidos para esses espetáculos são espécimes
peneirados em locais considerados a “fina flor” da sociedade brasileira,
frequentadores jovens de beleza comprovada, verdadeira ou artificiais,
desinibição latente, dispostos a qualquer coisa sem culpa ou pudor; reis da
degeneração humana que vivem por uma foto num grande portal ou uma linha em
qualquer revista de fofocas como o ápice de suas “carreiras”.
Paradoxalmente, esses seres, colocados na televisão atraem
aos que não têm nada disso e jamais terão; são como as lâmpadas para as
mariposas, já afirmava Adoniran Barbosa, e assistindo a esse circo de horrores
hipnotizados, sonham em ser como eles. Julgam a si mesmos capazes de ter a
mesma beleza e disposição para a degradação, vislumbrando uma vida melhor e
mais colorida do que a tediosa e cinzenta que vivem.
É incrível como creem
que aquilo a que assistem no programa é a definição de felicidade, desejando
para eles mesmos comportamentos nocivos e perniciosos!
Nesse quadro escolhem seus preferidos e torcem
desesperadamente, debatem e tomam partido como na política e no futebol. Alguns
chegam a se candidatar, produzindo vídeos caseiros dos mais horrendos e
causadores de vergonha alheia possíveis; vídeos esses explorados pelas tevês
para escancarar a miséria, ingenuidade e credulidade humana, o que os humilha e
rende audiência, mas não fama ou dinheiro. São meras vítimas.
Esse zoológico é formado por candidatos a celebridade,
misturados a subcelebridades rasteiras, galãs de feira livre, garotas de conduta
liberal... E o circo, a cada ano acrescenta mais polêmica para garantir a
audiência, como “amor entre pessoas do mesmo gênero”, traição instantânea e
arrependimento pré-programado, mentiras vis, predisposição ao roubo, fúria
radical provocando brigas e agressões físicas e psicológicas...
Restam perguntas, estupefatas: como tanta desgraça e falta
de caráter pode chamar tanto a atenção? Como alguém pode desejar ser alguém
assim, ou participar de um antro como esse? Essa é a verdadeira cara da
sociedade?
Finalmente, será que um reality que reunisse seres com
senso moral e ético, inteligência, cultura, boas atitudes e maneiras, que
vendesse a ideia de trabalho coletivo, respeito e amor ao próximo, reconhecesse
falhas e as corrigissem em vez de exaltá-las como armas para conseguir o que se
quer faria sucesso e despertaria nas pessoas o desejo de agir corretamente e se
tornarem indivíduos melhores em uma sociedade melhor?
Vai saber...
Marcelo
Gomes Melo
A bíblia relata um fato onde o povo de Israel, na falta de um deus visível e tocável, que não se importasse com coisas como princípios morais, fez para si um bezerro de ouro e o adorou. Como consequência alguns milhares de israelitas morreram tragados pela terra.
ResponderExcluirHoje a televisão se tornou o "bezerro de ouro da era moderna"
Boa lembrança, Francisco. E hoje estão sendo tragados pelas tragédias naturais e artificiais, vítimas da própria estupidez. Sinal dos tempos?
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