Metrossexuais nacionais I: Tiozinho
pobre
A famosa crise da meia
idade masculina. As mulheres alegam ser fantasia, servir até como desculpa por
diversos espertos para camuflar ou desculpar atitudes pueris, mas ela existe.
Ninguém, senão os homens poderiam explicá-la melhor, mas, jamais acontecerá
pois raros são os que se dão conta das próprias atitudes ridículas.
Mesmo assim, o poder de observação, aquele que usamos
naturalmente, sem sequer pensar nele, nos possibilita registrar centenas de
comportamentos sui generis das vítimas dessa crise nos machos do terceiro
milênio.
Por volta dos quarenta anos, em média, inicia-se a fase um,
que com o passar dos próximos anos irá se acelerando até um ponto em que será
superada, ou não haverá retorno. A transformação masculina se dá para deleite
de quem ainda não chegou à mesma situação e nem imagina que chegará; e para as
mulheres, que escolhem entre suportar estoicamente até que eles superem,
aproveitar-se do surto que os acomete, criticar mortalmente e recriminá-los de
maneira impiedosa, ou apenas divertir-se com as esquisitices proporcionadas
pelo sexo oposto.
Partamos, então, aos indícios da crise de meia idade
masculina; logo relacionarão a vários exemplos à sua volta, ou a si mesmo, com
sorte (ou falta dela. Rs).
O tiozinho pobre não
costuma dar atenção aos cuidados pessoais; se esquece de cortar o cabelo e de
fazer a barba, e quando o faz, de quando em quando, prefere ir ao CETREM, local
em que consegue um corte máquina um e uma sopa de graça. Esse tipo de cara
costuma ter mãos ásperas como lixas e unhas compridas e amareladas. Como se dá
a crise de meia idade nesses tipos?
No começo, passam óleo de comida nas mãos para amaciá-las e
procuram comprar vistosas camisas coloridas e tênis falsificado na feira. É a
vontade de aparentar uma juventude descolada. Logo descobrem que há cremes para
amaciar as mãos e começam até a escovar os dentes! Realmente preocupados com a
aparência passam a tomar banho mais vezes por mês e compram desodorante Axe em
profusão, que usam exageradamente, causando náuseas até no cachorro. Os botões
da exuberante camisa vermelha ficam abertos no peito, mostrando que são
concorrentes do Tony Ramos. Diminuem a ida às casas de saliência e passam a
frequentar parques de diversão, festas de axé e rodeios, tentando se misturar
com os jovens e atrair meninas com vinte anos menos para namorar. Isso os faz
sentir mais jovens.
O tiozinho pobre que
não tem carro enche sua bicicleta de acessórios legais: antenas traseiras com a
bandeira do Brasil, espelhos retrovisores com fotos da Rita Cadilac e da
Gretchen, fitas coloridas amarradas ao guidão e enfeites de plástico nos raios
dos pneus da magrela.
As cantadas mais elaboradas que costumam usar com as estudantes
são “coisa maravilhosa!”, “um dia gatinha manhosa eu prendo você no meu coração”,
“os botões da blusa que você usava, e meio confusa desabotoava...”, e ficam
orgulhosos, de peito estufado quando as moças sorriem, achando que os sorrisos
são para eles e não deles.
A ideia principal do homem durante a crise de meia idade é
parecer mais jovem e antenado com a juventude atual, reviver seus melhores dias
de garotões sem preocupação com a vida. É para isso que frequentam baladas
trance e dance music, mas se esquecem e cometem pequenas gafes, como esconder
as gírias de tempos atrás, que denunciam malfadadamente a idade real, e soltam
muitos “paz e amor, bicho”, “é uma brasa, mora”, fazendo o V da vitória como
cumprimento ao tirar selfies com a garotada.
Um tiozinho pobre consegue pegar mulheres mais jovens, sim;
levam a moça a uma pizzaria, pagam cerveja e sorvete, presenteiam com
chocolate, que compram dos ambulantes no trem e terminam a noite num hotelzinho
familiar com preço razoável. Sua conversa pegajosa às vezes funciona, e isso
lhe faz sentir o rei do mundo! Mas quando se dá mal precisa catar os pedaços da
humilhação e da tristeza e retornar à casa em que largou a mulher e os filhos
remelentos pedindo perdão por existir e prometendo não cometer mais deslizes.
Vão até à igreja!
Já o tiozão rico...
Marcelo Gomes Melo
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