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O aparelho destruidor de burros

           O gênio da cidade, após anos e anos de cálculos avançados de matemática, testes químicos e físicos altamente perigosos e clarividentes, observação empírica e sistemática dos moradores, anotando suas rotinas, maneirismos, aspirações e dogmas, finalizou seu compêndio histórico regenerativo astral da fatia da humanidade que habitava a localidade, fruto de encomenda dos altos mandatários do governo.

          O estudo visava dar uma noção das atitudes necessárias para aumentar a qualidade de vida de todos, economizando água, poupando recursos naturais, aumentando a expectativa de vida, educando melhor e criando um cenário de local ideal para que seus cidadãos passassem o resto de seus dias em paz.

 

          Ao apresentar o resultado, o gênio expôs detalhadamente para o corpo governante tudo o que acontecia de bom e de ruim em todos os aspectos. Não foi interrompido por um bom par de horas, até que o governador lhe fez a pergunta fatal: qual era a solução?
          O gênio, antes de apresentar a solução, valorizou a si mesmo, claro, mas, dramaticamente declarou o que deveria ser feito. Para conter a seca, economizando mais água, manter os pastos verdes, as ruas limpas, sem aglomerações que atrapalhassem o trânsito de vez em quando, obrigando a polícia a entrar em ação para desobstruir as ruas, deter os eventuais roubos de alimentos e a necessidade de cuidar gratuitamente, fazendo escoar grande parte do dinheiro dos impostos com quem não dá retorno algum além de trabalho pesado, era imperioso tomar uma decisão, embora polêmica: eliminar os burros!
 
         Homem de determinação, o governador sequer piscou. Mandou convocar os chefes de polícia, representantes dos sindicatos dos trabalhadores, líderes dos movimentos GLS, padres, pastores, pais de santo, movimentos sem teto, sem terra, sem nada, presidentes dos partidos políticos adversários, comentaristas esportivos, milionários influentes, banqueiros, fazendeiros, sindicato dos proprietários de jegues e jumentos, charreteiros...
          Com toda a população influente reunida, o gênio explanou orgulhosamente tudo o que havia contado aos mandatários, causando expressões de horror, nojo, medo, e ódio, dependendo da classe ali representada. Entre urros e uivos, protestos e discursos, possibilidades foram aventadas.. Fuzilamento dos burros; mas houve críticas. Não havia local para enterrar tanto burro; gastariam muito dinheiro em munição; o sangue mancharia a terra do estádio de futebol, local das execuções...
          O representante dos açougueiros sugeriu eliminá-los a facadas. Novas discordâncias. O sindicato das lojas de material para construção defendeu o enforcamento dos burros, mas a associação de mães achou que ver um monte de burros pendurados pela cidade iria traumatizar e deteriorar psicologicamente às crianças. No meio do debate acalorado, o sindicato farmacêutico concordou com o chefe do turbilhão gay em envenená-los com drogas psicóticas, pois assim seria menos cruel e eles não morreriam, virariam purpurina! Todos os outros rejeitaram.
          Foi então que o gênio, que esperara o ápice da confusão para se apresentar como o salvador, informou a todos que havia construído uma máquina infalível. O aparelho destruidor de burros! O aparelho mandaria os burros para o além de forma rápida, limpa, indolor, sem problema algum. Bastava programar os drones para localizar os burros, disparar o laser abdutor e pronto!
          Fez-se um silêncio sepulcral, que logo foi se transformando em murmúrios de aprovação. O gênio sorria com falsa modéstia, já imaginando uma estátua sua na praça principal, quando adentrou ao local a comissão dos direitos humanos, a quem haviam se esquecido de convidar. Aos brados exigiram a chance de  se manifestar em nome dos direitos dos burros, que, em nome do politicamente correto nem deveriam ser assim denominados! O nome do animal deveria ser “pouco inteligente”. Após breve confusão adquiriram o direito,  e o líder empunhou o microfone, ouvindo do governador uma pergunta óbvia: “por que os burros deveriam ser poupados?”.
          E respondeu, após dramática pausa argumentativa. Os burros são seres humanos como quaisquer outros!
 
                                      Marcelo Gomes Melo
 

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