A
hora de morrer pela causa
Você
me dá uma arma calibre 45 e eu te devolvo em troca uma flor. Uma linda flor em
uma caixa com uma bomba que lhe fará em pedaços, não restará conteúdo sequer
para uma análise de DNA. Você estará acabado de uma vez por todas em um ato de
profunda bondade de minha parte. Não sentirá dor alguma, em que pese suas
partículas jamais possam ser reunidas outra vez, aqui ou no além.
Com
a arma do Dirty Harry continuarei com as minhas atitudes bondosas de natal,
estourando os miolos da sua família e cortando a cabeça de sua esposa titular,
colocando-a em uma embalagem de panettone e enviando à família dela. Os pais
morrerão de infarto, e os irmãos, de medo.
Incendiarei
a sua casa com o seu papagaio dentro e destruirei todos os documentos que você
usava para cobrar dívidas injustas de idiotas tolos os suficientes para pegar
empréstimos danosos e desonestos.
Pegarei
a chave do seu carro importado e invadirei a mansão do seu sócio, atropelando a
todos os seguranças e empregados, jogando-o na piscina antes de subir as
escadas para terminar o serviço. O covarde usará a própria mulher como escudo,
então não terei alternativa a não ser perfura-la com as balas do 45, matando-a
em comunhão com o desgraçado.
Eu
tocarei fogo em todos os quadros e destruirei as relíquias. Abrirei os cofres e
pegarei dinheiro e joias, envenenando a água que abastece as casas de todos os
parentes do seu abominável sócio.
As
granadas distribuirei igualmente nos bolsos dos seus parceiros de tramoia,
todas sem pino. A cidade estará pintada de uma nova cor quando eu terminar. Reunirei
as vísceras e incluirei em uma panela enorme, fervendo com sal para obrigar os
que ainda estiverem vivos a se alimentar.
Encherei
as suas barrigas com carne humana para depois costurar todos os seus orifícios
com linha de pesca. A essa altura todos já saberão a quem pertence a cidade e
pagarei para ver que polícia se meterá nos meus negócios.
Para
apaziguar o local rezarei uma missa de cada denominação, solicitando que os
mortos ganhem espaço no céu, mas na metade da cerimônia acabarei com os
covardes que acreditaram ser possível ir para o céu mesmo sendo traidores
cruéis que se venderam por ouro. O próprio peso em ouro. Serão mergulhados em
ouro derretido e virarão estátuas que habitarão o fundo do mar. Ricos para
sempre na escuridão.
Após
tocar o terror, missão cumprida, população apaziguada, nova direção eleita, regras
duras e sutis ditarão o prosseguimento do sistema, agora sob as rédeas de alguém
tão ou mais sanguinário que o antecessor.
Só
é conseguida uma mudança radical com revoluções sanguinolentas que estirpe
valores antigos e reponha a ordem com novas leis e atitudes.
Logo
todos se acostumam e a vida continuará por alguns séculos até que o novo
escolhido venha para realizar novas mudanças, não importando o que aconteceu
antes. Apenas o cheiro da morte pairando à volta de todos é capaz de realizar
tais proezas sem devaneios nem perguntas.
Os
senhores das gangues sabem da responsabilidade para com os seus subordinados,
inclusive os que estão ainda verdes na profissão. No fundo o que importa é
morrer pela causa.
Marcelo Gomes Melo
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