Todas
as minhas ações pecaminosas, por mais tortuosas que pareçam, são como frutas
agridoces derretendo na língua, causando diferentes sensações, sabores
distintos, sentimentos rumorosos... A neve sob a visão de quem está com o corpo
quente, e na sequência sob o toque gelado dos flocos.
Todos
os meus olhares mal intencionados, cheios de tesão e exigências são maremotos
distantes na escuridão da noite em alto mar, que ninguém vê, mas percebe por
instinto, por mais leve que o seja, e de alguma forma aquelas borboletas no
estômago inquietarão mais do que incomodarão, e misteriosamente passarão a
fazer parte do dia-a-dia, nos intervalos em que, do nada, se sente observada,
ou cuidada, ou...
As
minhas ações intempestivas que lhe encurralam contra a parede e lhe obrigam a
olhar em meus olhos, sei que lhe ruborizam levemente, e a expectativa faz uma
mulher virar uma fera. Imagina o que está por vir, mas não sabe se quer ou se
vai resistir; imagina se tentar escapar lhe fará infantil e medrosa, ou se
ficar dará a entender que era o que esperava há tempos e eu levei muito tempo a
tomar a decisão de lhe espremer como a um pote de mostarda e me deliciar com o
seu sabor viciante misturado a todos os outros sabores que se acoplam inexplicavelmente
e transcendem todos os prazeres possíveis.
Estou
enrolado para dizer que a razão para tudo isso é você. Sou movido a você, e amo
os seus movimentos; você é a causa de todas as coisas gostosas que eu quero e
procuro; a razão dos meus sonhos confusos, adolescentes, dos quais relembro
pedaços, como em um quebra-cabeças, e me estimulam a passear os olhos pelo seu
corpo vorazmente, com um meio sorriso vampiresco, faminto, que deveria lhe
intimidar, mas não causa nenhuma reação.
Até
que você, um dia de sol cujo fim de tarde enterneceria a um urso, me observando
em pé, mãos nos bolsos das calças, olhar através da janela, o pensamento
distante... E vem até mim, virando-me de frente, pendurando-se em meu pescoço,
enroscando as pernas em torno da minha cintura, me beijando como se o mundo
estivesse acabando, devolvendo na prática tudo o que eu imaginava dividir com
você, assim de uma vez, como uma enxurrada ladeira abaixo, arrastando tudo o
que encontrava, roupas, sapatos, suspiros, pedidos com vozes entrecortadas.
E
terminamos o dia no sofá do escritório, abajur aceso, sorrisos incontidos,
latinhas de cerveja nas mãos, tendo certeza de que a noite seria longa e
inesquecível, para ambos. O amanhecer viria, e com ele os trabalhadores da
empresa. Só aí pensaríamos em algo para dizer. Entre sorrisos, sabendo que
ninguém iria acreditar.
Marcelo
Gomes Melo
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