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Apenas um poster na parede



Eu não sou candidato, porque sou o oposto do que a atrai. Não sou ambicioso, esperto, rico, nem possuo nada de especial. Ela é a fagulha que semeia incêndios sentimentais por onde quer que passe sem nem perceber. Acostumada às conquistas especiais, às vitórias arrasadoras sem nenhum esforço aparente. Ela sorri e o mundo parece melhor, eu sequer tenho qualquer sorriso.
Os olhos dela são portais através dos quais os afortunados se trans portam para a terra das maravilhas, e fazem qualquer coisa para permanecer neles, pois quando ela muda o foco tudo o que resta são sombras e amargura em pequenos potes de angústia.
Esses truques fazem com que qualquer miserável se julgue no direito de se candidatar a ser uma pérola que a distraia por algum tempo que seja. Não pensam no depois, e não imaginam o que é murchar à beira de qualquer estrada por falta de água e luz.
Ela não tem parâmetros para essas coisas, desde cedo aprendeu a pensar apenas em si mesma e nos seus caprichos. Não o faz por maldade, trata-se de filosofia de vida, e após ser introduzida à tal, nunca conheceu outra que não seja essa que coloca como o centro das atenções, a dona de todos os tesouros, desde que os considere assim.
Não posso ser candidato porque não me enquadro no rol de desejos ou expectativas que a fazem mover-se em minha direção. Aliás, ela não reconhece o sol e não é um girassol. Ela é a lua, e costuma ouvir os uivos da alcateia em homenagem a ela, distante e misteriosa.
O melhor de tudo é que há muitos que sabem não ter chance alguma, e mesmo assim candidatam-se, como uma manada rumo ao matadouro, ou ratos atrás da flauta. Eu não sou candidato porque não quero. Prefiro manter a independência e a sanidade. Lidar com ela seria letal para mim. E para ela também, talvez. Pelas minhas faltas de qualidades que a atraíssem, pelo meu romantismo inútil, pelo meu desconhecimento de palavras bonitas para seduzi-la, embora aparentemente nada a seduza além dela mesma.
Ela é um caso não raro de garotas que se apaixonam pelo próprio poder de sedução, e não pelos seduzidos. Com certeza sofrerão com o passar do tempo e forem perdendo esse poder, inclusive o de seduzirem a elas mesmas. O espelho vira inimigo mortal.
A conduta permanece. Intacta, não envelhece além da capa. A cobertura é o que se desgasta. Eu me sinto intensamente atraído por ela, mas me suicidarei antes de admitir isso para ela. Nem de longe. Isso é o que se chama de autopreservação. Posso olhar de longe, sem tocar. Posso ouvir, sem falar. Admirar sem mostrar. Posso tudo, sob o meu controle. Enquanto confiar nisso estarei bem. Para ela eu sou apenas um poster na parede.



Marcelo Gomes Melo
 




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