Os
dias parecem iguais através da janela, mesmo que sejam cinzentos, ensolarados,
escuros, chuvosos ou secos. Daqui do claustro o recorte visual apenas retrata o
silêncio e o vazio de transeuntes. A solidão está lá fora, claramente, agindo
como uma arma para ajudar a conter um inimigo invisível; porém, ela ultrapassa
os muros, as portas e as janelas, infiltrando-se em cada um aqui dentro, direto
no coração, espalhando-se rapidamente pelo corpo.
Os
dias passam lentos e no claustro procuramos formas de impedir que a solidão
atinja a alma, e não tenha volta. O limite da solidão como arma é o corpo, a
alma não deve ser atingida jamais, e cercada por flores, perfumes, carinhos
metafóricos, será a armadura intransponível que nos manterão seguros psicologicamente.
Há
um mundo inteiro dentro de casa, que vai além das informações midiáticas; estão
na literatura escrita, física, que lhe informa historicamente e transporta para
locais impossíveis de atingir que não sejam mentalmente, o que é exercício para
a manutenção da saúde intelectual, que ataca e supera qualquer tipo de problema
em tempos cruéis.
É
dessa maneira que o inimigo invisível será conhecido, combatido e eliminado,
evitando que outras doenças pré-existentes contribuam para agravar situações e
aumentem as estatísticas negativas permanentemente.
A
vida se mostra ainda mais preciosa nesses momentos, e à distância, palavras,
sorrisos e brincadeiras equivalem a toques, contatos com os quais estamos
acostumados e são imprescindíveis para pessoas como nós, alimentados física e
espiritualmente pelas demonstrações de afeto, diferentemente de outros povos,
fazendo com que a solidão necessária magoe mais. O sofrimento de uma população
como a nossa é constante, por diversos motivos, e isso nos fortalece e une
durante catástrofes, incutindo empatia e tolerância onde normalmente não há, e
o desejo de colaborar para diminuir os problemas aumenta e acaba por se mostrar
extremamente eficaz em qualquer batalha.
A
vida que se enxerga recortada através da janela pode ser auspiciosa, bonita e
saudável, uma percentagem do quadro inteiro, o qual em breve percorreremos
livres como sempre, resguardados todos os cuidados, para a continuidade de uma
existência normal e feliz dentro de uma expectativa que faz parte do ser humano
desde o início dos seus dias.
Marcelo
Gomes Melo
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