Misture
em uma garrafa de plástico de corote o conteúdo de um pacote de Mid sabor
limão, em pó. Chacoalhe com disposição e erga um brinde dentre os irmãos,
sentados na calçada do bar em cadeiras de plástico, com as motos reluzentes
estacionadas na sarjeta.
Nós
somos engenheiros, padres, médicos, professores, empresários, mecânicos, todos
com os nossos coletes de couro preto personalizados com o nome do clube e a
cidade à qual pertencemos. Com orgulho carregamos a história das nossas vidas
desde adolescentes, partilhando uma filosofia de vida oposta à que adotamos no
dia-a-dia em nossas profissões.
O
rock nos une em qualquer circunstância, e médicos operam ao som de Motorhead,
advogados produzem documentos ouvindo Iron Maiden e professores analisam letras
do Black Sabath. Mecânicos testam o som dos clientes com Rolling Stones e
filósofos tecem análises profundas sobre a humanidade usando Rush como música
de fundo.
Sobre
as motocicletas desbravamos outros mundos, outras vidas enquanto born to be
wild, do Steppenwolf é a eterna trilha sonora, o vento batendo na cara e as
pessoas comuns desconfiando do que é diferente, fisicamente, estilo
aparentemente selvagem em cérebros privilegiados que se entopem de cerveja,
jogam bilhar e carregam amazonas ferozes na garupa, acostumadas a viver de
acordo com as regras do clube.
Dinossauros
que poderiam ser considerados machistas caso as suas senhoras não preferissem
assim, homens fortes e decididos, porém com um equivalente feminino, que sempre
o que deseja.
O
ronco das Harley Davison, os capacetes arredondados e os óculos escuros de
modelos diversificados garantem o estilo, e os acessórios definem a
personalidade. Tatuagens que contam amores e brigas, diversão e fuga, histórias
inesquecíveis eternizadas na pele, sem volta.
Honra
e tradição é o que nos move. O dia-a-dia no trabalho nos iguala, mas o peso da
vida verdadeira música permanece; alguns não sobrevivem, mas quem fica garante
que as normas sejam cumpridas, e a liberdade, ao nosso modo, cultuada.
Pulseiras de couro, anéis de caveira, chapéus e canivetes definem o que o mundo
não vê, ou não deseja ver. O ciclo segue ao som de Judas Priest, Curtis Stiger,
Heart e muitos outros.
Os
novos virão e garantirão o espaço para os rebeldes aniquiladores do tédio,
filósofos de uma realidade crua, que existe para manter atônitos aos
despreparados.
Escrito
em papel de pão, versos de Janis Joplin cruzam fronteiras e épocas; Hendrix
queima guitarras e a fumaça se espalha pelo mundo encantando e definindo
pessoas.
Na
calçada do bar, cachaça e histórias varam noites inclementes. É apenas rock and
roll, mas eu gosto.
Marcelo
Gomes Melo
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