Estrelas
em um céu que ninguém pode enxergar
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Você não responde. Nunca diretamente. Eu provoco, lhe acuso de covardia, você
abaixa os olhos, muda de assunto, dificilmente diz algo que possa lhe
comprometer; quando o faz é através de metáforas. Acusa-me de ser louco e sorri
nervosamente.
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Você é louco!
-
Está vendo? Jamais pedi nada nem pedirei. Até que você ofereça. Os sinais que
envia são confusos; e a confusão é consigo mesma, posso afirmar. Quer e tem
medo ou tem medo por que quer? Não aceita desafios nem demonstra o que pensa,
impede os próprios pensamentos de se manifestarem para que não lhe convençam,
porque eles lhe impelem a um ponto fatal, e eu posso imaginar como você fica em
determinados momentos, prostrada pelos pensamentos quase reais. Permite alguns
toques, tão leves que parecem não ter acontecido; roçares que vivem só na mente
, tão profundos que não ousam se manifestar sequer quando está sozinha, pois
rendem arrepios e atitudes adolescentes para qualquer mulher adulta que julgue
ser um erro ceder aos espasmos do corpo provocada pela morte.
É
um caminho sem retorno, um beco sem saída, e ser encurralada a dois passos
entre mim e a parede é risco demais para ambos? Ou algo inevitável que fugirá
ao controle assim que acontecer, nos expondo a perigos inigualáveis, tanto
quanto às delícias jamais provadas?
Dois
adultos em um jogo não iniciado, apenas no campo dos pensamentos, contornando o
espaço como dois lutadores prestes a se atracar, tentando imaginar a melhor
estratégia e o que vai no pensamento do outro.
Os
olhos se tocam e rapidamente se escapam, tendo em vista serem a entrada para os
questionamentos jamais feitos. Não haverá vencedores, nem perdedores, mas o
medo de não manter o controle é o real motivo para que acontecimentos não aconteçam.
Até quando vigorará essa regra não escrita e as palavras nunca ditas
continuarão a pairar no limbo, sem dissolverem-se, sem serem vocalizadas,
apenas pairando como estrelas em um céu que ninguém mais poderá enxergar?
Marcelo
Gomes Melo
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