O
Inviolável
Não
adianta fazer promessas que sabe não serão cumpridas no decorrer do ano novo,
nem fingir que acredita em si mesmo e muito menos nelas. As almas contrariadas
vagam compartilhando as suas dores, indignando aos mais fracos, corroendo aos
mais fortes, destruindo a todos os que se julgam imunes.
Os
diversos tipos de amores encantam por sua imortalidade, porque persistem mesmo
depois de repelidos, são como aquela suave crosta fina de geada sobre as folhas
após uma noite abaixo de zero. O sol timidamente surge, como se estivesse com
dó de terminar com enfeite tão lindo.
O
ano surge e continuará sem mudanças perceptíveis, e ninguém se toca de que os
anos não mudam. Os seres mudam, a vida avança aos trancos e barrancos, os
desníveis passam a aparecer. Não que não estivessem lá, é que só são notados a
partir de determinado momento da existência. As pequenas falhas aumentam e se
tornam monstros aterrorizantes! A força que a esperança fornece perde
substancialmente o poder e o filtro do otimismo. Sofrimento é a serventia da
casa.
O
ritual de troca de ano, a marcação oficial do tempo de vida, que tenta renovar
o que não tem o poder de fazer acaba ficando evidente, transformando uma
multidão de tristeza ambulante sem condições de esconder ou maquiar isso, desabilitando
os pedidos de melhoria, destruindo as falsas credibilidades...
Em
que lugar tudo isso vai terminar? Velhas crenças, rituais antigos sendo
colocados de lado, desaparecendo cada vez mais rápido, e pessoas vagando pelo
mundo sem ter nada em que acreditar, sem nada que as proteja, transformando-as
em cínicas, dispostas a qualquer coisa em troca de qualquer emoção que seja,
cada vez mais curtas e nocivas.
Tudo
está terminando! Uma humanidade sem crenças, sem bússola que os guie,
utilizando o seu tempo de vida para testar tudo o que pareça rebelde e vá
contra o desejo de qualquer maioria, acreditando que isso os fará especiais de
alguma forma, mesmo que seja patética.
Almas
cheias de cicatrizes mal curadas mudando o modo de vida adotado por séculos,
não conseguem enxergar a decadência de seus atos, que os levarão a uma curva
descendente, sem retorno, e como nada têm para se orgulhar, caminham para o
matadouro lentamente, até que sejam cobertos pela escuridão. O fim.
Marcelo
Gomes Melo
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