Eu
não sei mais brincar de ser feliz, de possuir canções românticas que
representem casais apaixonados. Não consigo mais acreditar nas paixões arrasadoras
nem perder o sono e a fome por amor.
Não
existe amor. Não existe amor mal curado, paixão inusitada, impossibilidade de
ficar junto, malditas flores que nada significam... Juramentos eternos são espadas
de dois gumes, sofrimento por falta de beijo e abraço da outra metade, destinos
cruzados, sensações impossíveis de descrever, varar a noite ouvindo as mesmas canções do rádio, lendo os poemas
mais risíveis, as declarações mais toscas, as pazes mais lindas após as brigas
mais tolas e sem sentido.
Esses
são truques para distrair aos corações jovens, direcionar as suas emoções para
consumir tempo livre evitando a produção de tolices ainda maiores, como ideais
políticos estúpidos.
Não
é mais razoável gostar insanamente, tratar o amor como um jogo de xadrez quando
é mais parecido com tiro ao alvo em um parque de diversões. À medida em que o
tempo passa as marcas na pele e no pensamento ficam mais profundas, doloridas,
tornando rompantes amorosos meros arranhões desprezíveis.
Envelhecer
requer dignidade, e a dignidade cobra um preço irrefutável: o afastamento
peremptório de ações amorosas, corações partidos e reconciliações improváveis.
Há os que escolhem fingir, demonstrar para a sociedade o quão sensíveis podem
ser, e passam do limite aceitável, tornando-se eternamente mentirosos,
ridículos e hipócritas.
Tudo
vai secando como folhas de outono e estalando sob os pés calçados inclementes
que caminham em círculos, buscando o que só é possível encontrar e viver
durante a juventude.
E
durante esse período é um desespero leve, uma saudade preciosa que corrói o
peito e é saciada das maneiras mais deliciosas que se pode imaginar. E acaba.
A
reviravolta é certeira, quem comprava a ideia de amor imortal visita o inferno
e se acha a pessoa mais triste do universo. Nada que algumas semanas de choro e
cerveja não recuperem e disponibilize-os novamente para o jogo.
Os
níveis etários vão mudando e as esperanças também, as crenças sucumbem e são
trocadas por coisas mais viáveis, embora sem o calor e o tesão que as aventuras
apaixonadas causam. Homens velhos buscam recuperar a juventude com mulheres
jovens exibidas como troféus, e tratadas como uma conquista financeira, objetos
símbolos de poder.
As
mulheres velhas sofrem mais, julgadas por uma sociedade jocosa que esquece que
já foram jovens e não viram santas depois que a idade as alcança e ultrapassa.
Outras compram amargura e se escondem atrás de princípios intolerantes.
Atividades
da paixão, combo amor, carinho, lubricidade, ilusão duram por um tempo preciso,
depois viram tragédia e somem, dando lugar a outros tipos de critérios. Uns
chamam razão. Outros garantem: é senilidade.
Marcelo
Gomes Melo
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