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O lobo mau da rua Augusta



A todas as novinhas com quem transava ele presenteava com uma caixinha de veludo contendo uma corrente dourada, que sacava do porta-luvas do seu carrão importado como estratégia de sedução, insinuando que era ouro. Eram compradas na rua 25 de março, a granel, não era ouro verdadeiro, é claro!
Essas novinhas precisavam de atenção. A vida delas era difícil, mal tinham como se divertir, e essa era a brecha em que ele entrava. Um tiozão com um carro importado, roupas de grife, perfume cheiroso e um papo azedo.
Ele não precisava investir muito; as correntinhas, um rodízio de pizzas, e, no final da noite, no máximo a residência dele, se valesse muito a pena. Se não, um motelzinho barato, ou até mesmo um drive in e depois uma graninha para o Uber.
Não as veria mais. A cada fim de semana surgiam novas, cada vez mais jovens, enquanto ele brigava com a balança em dietas de todo o tipo e contra a queda de cabelo precoce, buscando a fórmula da juventude eterna.
O fato é que no final das noites sempre terminava sozinho, pensativo, depressivo, sentindo-se pior do que quando iniciou a noite. Talvez fosse o sentimento de um vampiro cuja fome jamais seria saciada, carregando a praga de jamais poder sair à luz do sol.
As meninas viviam um sonho minimalista logo desfeito; umas sofrendo, outras procurando similares, e outras sem se importar, apenas mais uma aventura diferente das com as quais estavam acostumadas.


O lobo mau da Augusta, o terror dos jardins, na verdade atuava nos bairros periféricos buscando por anjos não tão inocentes, investindo em sexo como na bolsa de valores. De vez em quando era menos esperto e alguma guria levava a carteira, relógios, cartão de crédito e talão de cheques, que davam algum trabalho para sustar.
Valia a pena aquela vida? Ele às vezes se perguntava, mas logo engolia uma ou duas doses de uísque, passava um gel no cabelo ralo para disfarçar a calvície e seguia em frente, com a sua sede de ostentar, um sorriso elaborado no rosto e as torturas noturnas que vive consigo mesmo enquanto durar.
 




Marcelo Gomes Melo
 

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