Construtores de Almas

Sacrificar as próprias crenças para sobreviver

O tempo das divindades pagãs misturou-se aos originais e triturou os pensamentos verticais dos templos, horizontalizados e apontados para todos os lados agora. Vistos de cima, pareciam os mais diferenciados desenhos, impossíveis de serem feitos por mãos, ou máquinas humanas.

Essa diversidade metafísica produziu pensamentos religiosos de todos os tipos, bastando coragem para filosofar e alguém para acreditar e seguir. Hoje é muito difícil perceber a realidade, diferenciando-as dos mitos e do charlatanismo.

A cada advento estranho para a maioria surgem os teóricos tentando faturar em cima da credulidade pessoal, e é mais fácil do que parece. Vive-se tempos nebulosos, de racionalidade fragmentada e desconfiança permanente, o que obriga paradoxalmente que se escolha lados, só defenda pontos de vista e se recrimine radicalmente o que não correspondia ao senso comum. É de onde surgem rumores do fim do mundo com costumes arraigados, colocando um pé em cada canoa, que se separa lentamente para causar estragos irreparáveis.

O mundo como o conhecemos está em ampla decadência, é verdade, e os causadores arvoram-se de vítimas, culpando aos elementos naturais, aos deuses nos quais acreditam, nas religiões às quais criaram para benefício próprio; jamais nos próprios erros arrogantes, modificando estruturas, destruindo coisas necessárias para inserir elementos artificiais que facilitariam as suas vidas, mas em longo prazo modificariam a disposição física e mental, dificultando a interação e prejudicando o entendimento das normas arraigadas gerando luta e destruição em nome de causas que não se sabe se vingarão.

O que é certo é que as pessoas se apegam a qualquer coisa que lhes prometa algum lucro, e morrem por isso tranquilamente, pois têm os olhos enevoados e os cérebros sem uso, morrendo através de teorias cada vez mais sem nexo, confusas e displicentes.

Não é importante colocar-se fortemente como alguém de reputação ilibada e pensamentos evoluídos, intenções benevolentes e superiores. Isso não dá o que é necessário nos tempos de hoje: fama.

Seres odiosos faturam mais e melhor, o que hoje em dia parece muito mais fácil e lucrativo, ainda mais em época de fácil venda de corpos e almas, amoralidades são mais visíveis do que imoralidades, e moral nem é considerada mais como um item de valor.

Resta a todos os outros sacrificar as próprias crenças para sobreviver, ou morrer lutando violentamente para preservá-las.

 

 

Marcelo Gomes Melo